O que você precisa saber sobre Automated Market Makers

O sistema pode ser o gás do DeFi, mas você sabe como funciona?

Por Redação  /  12 de julho de 2022
© - Shutterstock

Nos últimos sete dias, US$ 12 bilhões passaram pelos Automated Market Makers (AMM). O sistema que automatiza ordens de compra e venda de criptoativos está se tornando um combustível do DeFi. A desintermediação das transações e a promessa de liquidez para os ativos atraem parte dos investidores — e das companhias cripto.

Afinal, o que você deveria saber sobre AMM?

Mas antes, uma observação

Antes de entender o AMM, é preciso esclarecer que o “market maker” não é apenas do mundo DeFi.  No mercado financeiro tradicional, o termo “formador de mercado” é usado para se referir àquelas instituições que conseguem prover liquidez entre compradores e vendedores.

Na B3, os market makers são empresas grandes, que firmam o compromisso de manter a oferta e a compra de forma regular durante o pregão. Diminuindo, assim, as oscilações violentas no valor dos ativos.

De volta ao cripto…

cripto
© – Shutterstock

O AMM surgiu apenas em 2018 para suprir um gargalo para o crescimento das finanças descentralizadas: a intermediação do livro de ofertas. Quem explica para o Panorama Crypto é o influenciador e especialista em criptomoedas, Caio Vincentino.

“Para o book de ofertas funcionar, era preciso ter pessoas do outro lado para fechar as transações de compra e venda. E era um sistema caro no DeFi, porque toda hora precisava assinar a transação na blockchain. Então a Uniswap desenvolveu um modo das pessoas negociarem os ativos sem precisar de um book de ofertas”, disse o especialista em DeFi.

Assim era criado os AMMs: protocolos autônomos de smart contracts para definir o valor dos ativos digitais, equilibrando-os. De 2018 para cá, companhias como a Pancake Swap, a Curve DAO e a Osmosis se juntaram à Uniswap. Agora, elas transacionam bilhões de dólares por semana. 

Pools de Liquidez e os Automated Market Makers

Os “pools de liquidez” são a base do ecossistema dos AMM. “São nesses ambientes que você deposita pares de ativos para prover a liquidez de ambos, se tornando um formador de mercado. É possível utilizar ativos como ETH, BTC, USDC e outras stablecoins, em pares”, fala Vicentino.

Os pools são como espaços demarcados pelos smart contracts para a venda e compra de ativos, funcionando como forma de equilibrá-los. Quando não há demanda pelos criptoativos, o espaço assume papel vendedor. Quando há muita oferta, ele vende.

Para manter o equilíbrio, os principais AMM utilizam a fórmula do “X*Y=K”, ou seja, o valor dos ativos X multiplicado pelo valor dos ativos Y é igual a uma constante. Por isso, as pools operam em pares de ativos. 

Para garantir que haja liquidez em cada pool, e que cada usuário não apenas crie sua “piscina individual”, as DEXs dão incentivos para quem provê liquidez. Esses incentivos podem ser taxas ou até mesmo em tokens.

Quando uma pessoa começa a criar stakes de criptoativos em pools de liquidez, ele ganha recompensas na forma de juros. Aqueles que conseguem navegar por vários pools de liquidez, e transitar por esses juros, são os chamados “yield farmers”.

A mineração de liquidez também é possível nas pools — o que mantém a liquidez das DEXs e traz “renda passiva” para os mineradores de liquidez.   

Juntas, as “pools” geram uma profundidade grande para o mercado. De acordo com pesquisa feita pelo Gordon Liao, da Uniswap Labs, a Uniswap tem duas vezes mais profundidade de mercado do que as exchanges centralizadas de ETH-US-Stablecoins.

A profundidade, nesse caso, indica quanto um ativo pode ser negociado por outro em um determinado preço. Para ter altos volumes de transação, é preciso que esse número seja alto.

Automated Market Makers: Democratização e desafios

“Os AMMs criaram oportunidade de qualquer pessoa ser formador de mercado, e isso traz uma liberdade econômica que não existe no mercado financeiro tradicional, onde apenas uma grande empresa tem esse grau de participação”, comenta Caio. O especialista em DeFi ainda fala sobre um outro uso dos pools de liquidez: levantar popularidade para tokens de causas e de teses. 

Nem tudo são taxas e renda passiva. Para quem utiliza esses sistemas, existe o risco do chamado “slippage”. Ou seja, quando o valor dos criptoativos oscila demais, tornando o preço à vista e o preço da negociação muito díspares.

“É mais interessante estar num pool quando o mercado está negociando em áreas curtas de preço, um range menor ajuda o formador de mercado. Mas se  o mercado oscilar muito, pra cima ou para baixo, o formador sofre uma pancada, porque a volatilidade muda a formação do pool e exige mais de quem está lá”, fala Caio. 

Isso cria o risco da perda impermanente, quando o valor do preço do ativo, aqueles X e Y da equação, mudam demais, dando uma perda temporária de provedores de liquidez. Em outras palavras, quando o valor do criptoativo dentro das pools fica menor do que o que ele é nas exchanges centralizadas.

A perda só se torna permanente quando o trader retira os ativos do pool de liquidez. Uma pesquisa publicada no final do ano passado pela Bancor, um protocolo de trade descentralizado, mostra que 50% dos provedores de liquidez da Uniswap estavam perdendo dinheiro devido a esse risco.

Equilíbrio complexo

A perda impermanente é um ponto tão importante do sistema, que já existem calculadoras para os provedores de liquidez entenderem quando e quanto estão perdendo. Para reduzir os riscos, as principais DEXs oferecem juros que podem ir de 0,3% a 1% para os criptoativos que seguem nas pools. Além de oferecerem incentivos extras para os usuários.

O que ressalta outra questão que precisa ser levantada: o modelo de negócios. De acordo com o CTO da Living Opera e pesquisador da Stanford, Christos Makridis, as AMMs ainda não conseguem capturar em receita o valor que geram para os usuários. Em artigo publicado no Medium Data Drivem Investor, Makridis aponta que o sistema de incentivo para os usuário é um valor alto a se pagar para manter os pools, visto que as taxas de transação também ficam com os usuários, e não com a empresa.

Mesmo com os desafios, os AMM estão em processo constante de interação e evolução. A maturidade do mercado, assim como em outros segmentos de cripto, ocorre enquanto as bases para ser um instrumento poderoso no mundo DeFi são desenvolvidas.