“Moeda digital brasileira se inspira em DeFi”, diz diretor da Fenasbac

Rodrigoh Henriques participa do Web Summit e fala sobre os avanços do real digital, que será lançado no final de 2024

Por Redação  /  2 de maio de 2023
Fonte: Itaú Fonte: Itaú

O real digital foi tema de uma importante discussão sobre o avanço da moeda eletrônica brasileira durante o Web Summit. De acordo com o diretor de inovação da Fenasbac, Rodrigoh Henriques, o projeto da CBDC se inspira em soluções de finanças descentralizadas (DeFi).

Henriques discursou sobre o real digital durante uma apresentação sobre inovação digital no espaço do Itaú no Web Summit. O diretor de inovação da Fenasbac afirmou que a moeda eletrônica brasileira deve ser lançada oficialmente entre 2024 e 2025.

Ele falou ainda sobre a descentralização de projetos financeiros como o real digital. Para Rodrigoh Henriques, a moeda não deve ser criada a partir de um sistema de gerenciamento de dados totalmente descentralizado.

“Eu não acredito na descentralização total do sistema financeiro. Eu não tenho um único banco chamado Banco do Brasil. Eu tenho várias instituições financeiras, com características diferentes, com produtos e serviços diferentes.”

Real digital não é 100% DeFi

O projeto do real digital vivenciou uma fase de testes envolvendo soluções e ferramentas criadas para integrar a CBDC brasileira. Embora seja inspirado no conceito DeFi, Rodrigoh Henriques acredita que o projeto não será 100% baseado nesse conceito.

Ou seja, para ele o real digital terá características DeFi, mas sua rede não será totalmente descentralizada, como acontece com alguns projetos no mercado cripto, por exemplo.

“O Banco Central se inspira na ideia da descentralização. O Banco Central e a moeda digital brasileira se inspiram em DeFi. O que significa que não é cem por cento DeFi.”

Rodrigoh Henriques exemplificou como um ambiente regulado e parcialmente centralizado deve garantir mais segurança para os utilizadores do real digital. Portanto, outros projetos podem ser criados a partir desse ‘círculo’ regulatório.

“O Banco Central está desenhando um círculo e dizendo: – dentro deste círculo existem ativos regulados. Dentro desse círculo está a moeda digital do Banco Central. Aqui dentro, você tem um lugar para reclamar se algo der errado.”

Criação não é papel do Banco Central

Em 2021, o Banco Central do Brasil apresentou através do Lift uma oportunidade de desenvolvimento de soluções e ferramentas voltadas para o real digital. Ele lembra que é papel do regulador orientar sobre a criação de soluções financeiras, mas não é papel da instituição apresentar soluções criativas.

“Neste momento o caminho de inovação e criação da moeda digital continua. O Lift Challenge acabou, o que você tem é um piloto.”

Sendo assim, coube aos participantes do Lift desenvolverem projetos relacionados ao real digital. O programa, que apresentou o relatório final recentemente, se encerrou com uma nova fase para a CBDC brasileira começando agora.

“Não é papel do regulador ser criativo, mas é papel do regulador estimular a criatividade, discutir a inovação e ajudar a aprofundar esses novos desenhos.”

Regulação precisa mudar para real digital ser criado

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© – Shutterstock

Além do desafio de estabelecer como o real digital será emitido, o Banco Central precisa mudar a legislação atual antes de criar a moeda eletrônica. Com a regulação atual, a instituição não possui autorização para criar uma CBDC.

“O regulador não pode, neste exato momento, emitir uma moeda eletrônica. A gente tá mudando a regulação. Ele pode imprimir papel, ele pode cunhar moeda. Com a moeda eletrônica do Brasil, a regulação vai mudar.”

Desafio entre privacidade e descentralização

“O projeto piloto é pra gente testar. Eu prefiro imaginar os limites da tecnologia gerando programabilidade, descentralização, segurança e privacidade. Então, se eu puxo uma descentralização muito grande, eu posso estar fazendo a troca da centralização por algum tipo de segurança, ou algum tipo de privacidade.

Ou eu estou elevando a privacidade em um nível, que eu estou criando um anonimato que não é interessante para uma rede regulada. Todos esses testes, de como essa rede vai ser desenhada, vão ser feitos no piloto do real digital.”

Real digital avança com Lift

Depois de terminar a fase de testes do real digital, o próximo passo é estabelecer quais empresas participarão do processo de emissão da CBDC. O diretor de inovação da Fenasbac afirma que os projetos dessa nova etapa serão escolhidos ainda em maio de 2023.

Portanto, até o lançamento do projeto piloto do real digital, mais testes serão realizados com a moeda. Tudo indica que a emissão acontecerá até o final de 2024, segundo previsão de Rodrigoh Henriques.

“A ideia é que a gente escolha os projetos até o final do mês. E a gente rode o limite de uma ideia de piloto, que está vinculada a expectativa de lançamento da própria moeda do real digital, que é final de 2024.

A gente pode ter várias fases do piloto até o final de 2024, para ter um lançamento inicial do CBDC brasileiro do real digital.”

Integração blockchain

A proposta do real digital apresenta a hyperledger como responsável pela emissão da CBDC. No entanto, o projeto pode ser emitido em outras tecnologias e ou plataformas, lembra o diretor de inovação da Fenasbac.

Além disso, Rodrigoh orienta que a CBDC brasileira deve funcionar como uma EVM, assim como a máquina virtual da rede Ethereum.

“Mas, mesmo que você esteja fazendo um teste (por exemplo). Eventualmente, você descobre que o hyperledger tem algumas limitações, e que pro desenho que a gente vai especificar, que não sejam interessantes.

Você pode trocar por outra rede, outra tecnologia, mas o core da ideia é uma EVM para que você tenha os criativos, todo mundo DeFi, imaginando ideias de tokens, contratos e serviços e que possa ser de alguma forma portado por uma rede regulada ou unificada do Banco Central.”

Hyperledger Besu emitirá CBDC brasileira

O real digital deve ser considerado uma própria blockchain com a emissão da moeda através da hyperlegder Besu. A plataforma, que oferece soluções de escalabilidade para a rede Ethereum, foi escolhida pelo Banco Central por oferecer facilidades de implementação.

“A aposta hoje é que o real digital seja uma tecnologia blockchain. Foi escolhido o hyperledger Besu, por uma questão de comunidade, no Brasil e no mundo, e por uma questão de facilidade de algumas implementações interessantes para a moeda digital.”

Real digital foi inspirado em DeFi

Sendo assim, o projeto do real digital foi inspirado em projetos DeFi. Mesmo sem o lançamento da CBDC, Rodrigoh conclui que stablecoins já são emitidas por bancos no Brasil, através da tokenização de ativos como depósitos à vista.

“De uma certa forma, na inspiração DeFi, você tem os bancos tokenizando seus depósitos à vista. Isso é uma stablecoin do banco. Essa possibilidade de você estar trabalhando com uma espécie de stablecoin intrabancária, já é uma grande possibilidade DeFi.”