CBDC: o que é e como vai funcionar o real digital, o Drex?

No Brasil, moeda está em fase de testes pelo Banco Central e o real digital deve ser lançado até 2024

Por Paulo Carvalho  /  18 de janeiro de 2024
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O mercado financeiro vivencia uma transição para a economia digital, onde ativos como CBDCs devem desempenhar um papel importante na transação de valores em países como o Brasil.

A sigla CBDC é usada para o termo Central Bank Digital Currencies, em sua tradução, uma moeda digital emitida pelo Banco Central. Ou seja, a CBDC é um ativo digital emitido e controlado por bancos centrais em todo o mundo.

Mas, embora seja classificada como um ativo digital, a CBDC pode não ser entendida como um criptoativo, ou ainda, como uma stablecoin.

Entenda as diferenças entre esses ativos digitais e conheça projetos de CBDCs no Brasil e em outros países.

O que é CBDC?

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A sigla CBDC é usada para classificar moedas digitais que são emitidas por bancos centrais. Com a consolidação da economia digital e o processo de tokenização de ativos reais, bancos centrais estão desenvolvendo sua própria moeda digital.

Cada projeto pode utilizar um tipo de tecnologia para emitir sua própria CBDC. Essa moeda digital, assim como uma stablecoin, tem o seu preço atrelado a uma moeda fiduciária, como o dólar, o real ou o yuan.

A emissão de uma CBDC também pode variar em alguns casos: uma unidade da moeda fiduciária é usada como depósito para a criação de uma CBDC. No entanto, existem projetos que não possuem preço atrelado à reserva do ativo, e a emissão segue diretrizes do Banco Central responsável pelo projeto.

Há ainda CBDCs que podem ser criadas por meio de parcerias entre bancos centrais de países distintos, como o Brasil e a Argentina, por exemplo. O principal objetivo para a criação de uma moeda digital controlada por bancos centrais é atender o comércio exterior e transações transfronteiriças.

Quais são as diferenças entre CBDCs e stablecoins?

Existem algumas diferenças entre CBDCs e ativos digitais classificados como stablecoins. A primeira delas está relacionada à tecnologia de cada ativo: a maioria das CBDCs estão sendo desenvolvidas por meio de gerenciamento de dados descentralizados, enquanto stablecoins como o BRZ usam a tecnologia blockchain.

Por outro lado, existem CBDCs que testam a tecnologia blockchain como o sistema emissor de moedas digitais controladas por bancos centrais. Recentemente, o real digital testou a tecnologia durante uma fase beta da CBDC, que deve ser lançada oficialmente entre 2023 e 2024.

Além da tecnologia, a emissão da CBDC é diferente de uma stablecoin por conta da forma como é feita a sua reserva de valor. No caso das stablecoins, os projetos contam com uma reserva de valor na moeda fiduciária em que o ativo digital está atrelado.

Já em moedas digitais controladas por bancos centrais, essa reserva de valor pode ser flexível, atendendo as conformidades de cada banco central responsável pela emissão do ativo de valor.

O que é o real digital?

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O Brasil faz parte do grupo de países que estão desenvolvendo sua própria CBDC. Chamada real digital, o projeto brasileiro é organizado pelo Banco Central e ainda está em fase de testes.

Entre 2022 e 2023, o real digital passa por testes envolvendo soluções financeiras criadas por meio do programa Lift, que foi lançado no final de 2021. O programa de aceleramento de ideias relacionadas ao uso da CBDC brasileira está testando soluções e tecnologias como a blockchain.

Sendo assim, no início de 2023, o Lift apresentou um teste do real digital sendo emitido e transacionado através de uma blockchain pública. Na fase de testes, o Banco Central confirmou a segurança dos dados e a viabilidade do uso da tecnologia na emissão do real digital.

Outros testes com o real digital devem incluir ainda o uso de um sistema de registro distribuído hyperledger, também construído com uso da tecnologia blockchain. Até o lançamento oficial da CBDC, o Banco Central deve decidir sobre o uso da tecnologia na versão final do real digital, com data de lançamento prevista para 2024.

Lançamento do real digital, o Drex

O projeto de stablecoin brasileira está avançando com a determinação do nome do projeto, que será chamado Drex. A sigla significa “Digital Real Eletrônico X”. Atualmente, a CBDC do Brasil está em fase de desenvolvimento.

Até 2023, existia uma expectativa de lançamento do Drex ainda em 2023. No entanto, esse prazo foi esticado pelo Banco Central do Brasil, e uma versão piloto do projeto será lançada em 2024 no mercado financeiro.

Enquanto isso, testes são realizados com a CBDC brasileira. Grandes instituições usaram a moeda digital em transações de envio e recebimento de valores, além da possibilidade de emissão do Drex.

Em sua fase piloto em 2024, o Drex deverá ser testado em mais operações com a moeda. Dessa vez, os testes podem incluir a liberação do uso da CBDC brasileira por usuários além do consórcio firmado por instituições financeiras que fazem parte da fase pré-piloto, que acontece em 2023.

CBDC Drex avança em 2024

Os primeiros testes da versão piloto da CBDC brasileira, o Drex, foram anunciados pelo Banco Central do Brasil na primeira quinzena de janeiro de 2024. Conforme disse a instituição, 500 transações foram realizadas com a moeda digital.

Nessa primeira fase de testes com transações envolvendo o Drex, 11 instituições financeiras participaram como nós validadores da rede. Com isso, foram simuladas transações que envolvem tanto operações no mercado de varejo como no atacado.

Portanto, as primeiras transações com o Drex já aconteceram em um ambiente de testes com a CBDC brasileira. O Banco Central também emitiu títulos públicos a partir do Drex, o que serviu para simulações de compra e venda desses títulos entre os participantes do consórcio do real digital.

Assim, com o anúncio das primeiras transações com o Drex, o Brasil inicia sua fase piloto de testes com a moeda. Depois disso, o Banco Central deve estabelecer um calendário de atividades para o Drex em 2024.

Brasileiros ainda não conhecem moeda digital

Enquanto o Drex não é lançado oficialmente pelo Banco Central, o desconhecimento por parte da população sobre o projeto poderá ser empecilho na adoção em massa da moeda digital brasileira.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo DataFolha em parceria com o TecBan, 82% dos brasileiros não conhecem o Drex. Ou seja, cerca de 3 a cada quatro pessoas desconhecem o desenvolvimento da CBDC brasileira.

A pesquisa “Relação dos brasileiros conectados à internet com serviços financeiros e com caixas eletrônicos” foi realizada em todo o Brasil entre os meses de setembro e outubro de 2023. O estudo concluiu que o Banco Central poderá enfrentar desafios para democratizar o acesso ao Drex.

Uso da tecnologia blockchain

Nessa primeira fase piloto, o Drex será emitido a partir da tecnologia blockchain. Embora a CBDC brasileira não tenha sua própria rede, o projeto será gerenciado por uma hyperledger que possui compatibilidade com a rede Ethereum, a Besu.Com isso, o DREX será emitido a partir de um registro distribuído de dados, também conhecido pela sigla DLT. A hyperledger Besu, responsável pela fase piloto da CBDC brasileira, também possui compatibilidade com a EVM da Ethereum, ou seja, futuramente a moeda digital poderá ser integrada ao mercado cripto através dessa compatibilidade.

Por que os BCs estão desenvolvendo as CBDCs?

Ativos financeiros são considerados bens, produtos e serviços, além de moedas fiduciárias e criptomoedas, por exemplo. Com o processo de digitalização da economia, outro movimento impulsiona essa adoção virtual dos ativos de valor: a tokenização.

Portanto, as CBDCs estão sendo desenvolvidas para atender a demanda de uma nova etapa da economia, com a consolidação do mercado cripto e o processo de tokenização de ativos de valor sendo considerado uma reestruturação do mercado financeiro.

Quais são as aplicações reais das CBDCs?

Assim como algumas criptomoedas, além das stablecoins, o conceito de dinheiro digital também serve para classificar as CBDCs em desenvolvimento em todo o mundo.

Projetos como o real digital serão entendidos como dinheiro digital, exercendo finalidades como forma de pagamento, envio de valores, transações transfronteiriças e para câmbio.

Por representar uma versão digitalizada do dinheiro físico, a moeda digital controlada por bancos centrais é um ativo digital, tal como stablecoins. A diferença entre as moedas está na sua estrutura, emissão e tecnologia.

Qual é o estágio da CBDC chinesa, o yuan digital?

Além do real digital, um dos maiores projetos de CBDC é o yuan digital (e-CNY). Enquanto a CBCD brasileira está em seus primeiros testes, o ativo digital chinês já enfrentou casos de uso envolvendo milhões de pessoas.

Desde 2019 a China trabalha no desenvolvimento de sua própria CBDC. No total, mais de 100 bilhões de unidades do yuan digital já foram emitidos pelo país. Entre os chineses, 261 milhões deles já possuem carteiras digitais compatíveis com a moeda digital.

Ainda em 2022, a China usou o e-CNY durante os Jogos de Inverno que aconteceram no país. Além de atletas, os espectadores da competição usaram a moeda digital chinesa em mais uma fase de testes do ativo.Quer entender mais sobre o assunto? Saiba nesse link como acontece a interação entre CBDCs e stablecoins.