O Token do token: entenda o que são ativos sintéticos (e como eles podem estimular a nova economia)

Ativos conectados a commodities podem se unir aos propósitos dos investidores, indica professor da PUC-Rio

Por Redação  /  23 de agosto de 2022
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A tokenização chegou ao mercado de cripto. Não se trata de uma frase redundante, muito menos uma explicação sobre o mercado de NFTs. É um jeito mais simples de se explicar os ativos sintéticos, que são derivativos de criptomoedas que estão crescendo em popularidade e em tamanho no mercado.

Os ‘Synths’ — o apelido dado aos ativos sintéticos — são vistos como a última fronteira para a digitalização total do mercado financeiro. Mais do que uma ferramenta de fazer o cripto render, os assets podem ser uma forma de se diversificar o portfólio e também de abrir as portas para novos mercados de investimento, como é o caso da economia verde.

Ativo sintético: o que é?

“O ativo sintético nada mais é do que um criptoativo que segue o preço de uma ação, commodity, indicador ou outro criptoativo”, explica Leonardo Lima Gomes, professor de finanças e economia da energia no IAG-PUC-Rio e lidera as pesquisas no Ledger Labs, o núcleo de pesquisa em Blockchain e Criptoativos da instituição. Os mais conhecidos, na verdade, seguem o preço do dólar e do ouro.

A lógica é parecida com a de criptomoedas como a BRZ, que são conectadas ao preço do real. 

Até esse ponto, um ativo sintético cripto é até semelhante com os ativos sintéticos (ou derivativos) e daquele do mundo das finanças tradicionais. “A grande diferença é que ele é programável. Existe algum ativo de petróleo que você pode programar as regras em um algoritmo?”, fala Gomes.

Para “acompanhar” o preço do “ativo marcador”, os ativos sintéticos usam os chamados “oráculos”. É como o algoritmo entende que o valor do token deve oscilar. Nesse sentido, tem até mesmo como ter ativo sintético inverso: ele sobe quando o “marcador” desce, como é o caso do iBTC, o Inverse Bitcoin. 

É possível também uma pessoa usar dólar ou bitcoin para garantir tokens sintéticos de commodities e dólar. De acordo com Gomes, esse é um poder do token sintético: o de levar, rapidamente, investimento para áreas que, no mercado financeiro tradicional, não receberiam esse tipo de atenção. 

De novo, Terra (Luna)

O principal risco dos ativos sintéticos é acontecer um descolamento grande entre a oscilação do token e dos valores que servem como base, ou o colateral, dele. “É necessário ter uma folga de volatilidade entre o ativo do colateral e o ativo que o token espelha. Para o token sintético ser crível, ele precisa ter um valor colateral que é minimamente equivalente ou maior, preferivelmente maior, do que o ativo que está sendo espelhado”, diz o líder do Ledger Labs.

Em outras palavras: é preciso fechar a conta. A variação precisa ser parecida. A governança dos sistemas que criam ativos sintéticos, diz Gomes, se assemelha à da DAO, com um sistema transparente e que todos consigam verificar. “Assim todos conseguem ver se o colateral está do tamanho adequado”, comenta.

terra luna

Dois ativos muito voláteis não se equilibram nesse sistema. E foi o que aconteceu com a Terra (Luna), exemplifica o professor. “Ela não tinha um colateral decente. O colateral era a própria rede, era o próprio cripto. A chance de colapsar era altíssima. Diferente da Maker DAO, que para de pé, você tem agentes de liquidação a partir da oscilação de margens, o keeper executa, não deixa o colateral ficar abaixo de um nível considerado correto, que não há perdas”, afirma o professor. 

Economia verde e os ativos sintéticos

“Algo que estudamos bastante são os tokens ligados a crédito de carbono, existem mais de 100 projetos. É um mercado que precisa se desenvolver rápido”, comentou Gomes. A McKinsey estima que o mercado de crédito de carbono movimentou US$ 25 milhões no Brasil em 2021, e isso mesmo com ele sendo altamente regionalizado.

Os tokens permitem que o movimento entre o crédito de carbono de países diferentes sejam facilmente reconhecidos, analisados e trocados. Recentemente, também surgiram tokens ligados a projetos de terras raras. “Quando ocorre a tokenização, é possível trazer liquidez para mercados que, por vias tradicionais, não conseguiam isso”, fala Gomes.

“A chance de programar essa liquidez, colocar os tokens em algoritmos, pode fazer sentido em aplicações, principalmente, da economia verde”, disse o professor.  

Ativo sintético x dinheiro

“Se pensarmos bem, o dinheiro começou como um ativo sintético”, compara Gomes. Ao criar as moedas oficiais dos países, os governos precisavam ter um estoque em ouro.

“Existia um padrão ouro. O governo tinha que trancar o ouro no cofre e emitir esse sintético chamado dinheiro na mesma paridade, com a mesma riqueza. Mas, com o crescimento da economia, não havia mais como estocar ouro na mesma velocidade que as pessoas trocavam dinheiro. Então, a moeda fiduciária se desvencilhou do ouro”, comenta o professor.

Na lógica do ativo sintético, o “padrão ouro” acontece quando os tokens são feitos a partir de colaterais confiáveis e transparentes. Para Gomes, no futuro, o principal uso do bitcoin será para servir de colateral de ativos sintéticos. “O grande uso do bitcoin será como colateral de token sintético. Longe de ser meio de pagamento”, finaliza.


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