A criação do Drex pelo Banco Central promete revolucionar a forma das pessoas de lidarem com o dinheiro e fazerem a gestão do patrimônio. Com o lançamento público previsto inicialmente para 2023, muitos especialistas e instituições financeiras foram se preparando para o impacto do real digital em suas operações.
Afinal, a moeda eletrônica baseada em blockchain é um dos ativos digitais que prometem revolucionar os pagamentos instantâneos e a tokenização, reforçando a inovação financeira e a infraestrutura financeira no país. A ideia é que a moeda seja usada em transações de indivíduos e empresas, além de pagamentos comuns no dia a dia, como boletos bancários e contas.
Além do Brasil, outros países trabalham em projetos de CBDCs (Central Bank Digital Currency), como a China, que está em fase avançada e já movimentou mais de US$ 14 bilhões em yuan digital, e outros mais de 100 países estão desenvolvendo sua própria moeda digital, como Nigéria, Malásia e Arábia Saudita.
Apesar do movimento dos bancos centrais ao redor do mundo, algumas entidades, como o presidente do Banco Central da Austrália, acreditam que as stablecoins são alternativas melhores aos CBDCs. Então, confira nesse conteúdo sobre ambas alternativas!
- O que é Drex?
- Como vai funcionar?
- Qual a importância do Drex?
- Qual a função do Drex?
- Como o BRZ se diferencia do Drex?
- Os benefícios para a economia e empresas
O que é Drex?
Drex significa Digital, Real, Eletrônico e Conexão. Classificado como uma Central Bank Digital Currency (CBDC), é uma representação digital da moeda física Real emitida pelo Banco Central. Assim, seguirá as mesmas políticas econômicas que determinam o valor do real físico.
O preço será atrelado ao real brasileiro (paridade 1:1), o que significa que cada real digital vale R$ 1 no mercado. Dessa forma, proporciona uma base sólida para usar o Drex em transações financeiras cotidianas de indivíduos e empresas.
Como o Drex vai funcionar?
O Drex vai usar tecnologia blockchain para os pagamentos serem instantâneos. Além de ser mais rápida que os sistemas tradicionais para envios de remessas, uma rede blockchain também é mais segura. Amplamente utilizada no ecossistema de criptomoedas, dessa vez será uma instituição financeira do sistema tradicional a incorporar uma rede em sua configuração.
Conforme o diretor de inovação da Fenasbac, Rodrigoh Henriques, o projeto da CBDC se inspira em soluções de finanças descentralizadas (DeFi), mas não é 100% baseado nesse conceito. Em palestra no espaço do Itaú no Web Summit em 2023, ele falou que
“O Banco Central está desenhando um círculo e dizendo: – dentro deste círculo existem ativos regulados. Dentro desse círculo está a moeda digital do Banco Central. Aqui dentro, você tem um lugar para reclamar se algo der errado.”
Ele também exemplificou como um ambiente regulado e parcialmente centralizado deve garantir mais segurança para os utilizadores do real digital. Seguindo nessa linha, o Banco Central criou o programa Lift Challenge para selecionar projetos que apresentavam soluções para a moeda digital brasileira.
Além disso, antes do lançamento piloto, foram implementadas fases de testes com o real digital atrelado a títulos públicos federais simulados para avaliar a infraestrutura e a segurança da aplicação. Segundo Fábio Araújo, o coordenador da iniciativa:
“O objetivo de desenvolver essa plataforma é promover testes, com foco especificamente na infraestrutura de programabilidade em DLT, tecnologia de registro distribuído. E, usar ativos financeiros nessa programabilidade permitindo protocolos de entrega contra pagamento.”
A ideia é que o Banco Central seja o administrador e regulador da rede, entretanto, na fase piloto de testes em 2024, a gestão do Drex aconteceu por meio de uma hyperledger compatível com a rede Ethereum, a Besu.
O que é Besu?
A Besu oferece soluções de registro distribuídos de dados (DLT) para a rede Ethereum. Ela funciona tanto como validadora dos dados, atuando como um nó na rede Ethereum, quanto como uma rede permissionada para registrar transações privadas.
Assim como projetos conhecidos como segunda e terceira camada na Ethereum, a Besu funciona como um livro de registro de dados independente, e processa transações e dados fora da rede blockchain principal. Por isso, a tecnologia DLT está sendo amplamente adotada por bancos.
A plataforma foi desenvolvida em 2019 pela Hyperledger e possui compatibilidade também com a Ethereum Virtual Machine (EVM). Ou seja, como a emissão do DREX será por uma DLT, a moeda digital poderá ser integrada ao mercado cripto futuramente.
Qual a importância da moeda digital brasileira?
O Drex não apenas representa uma evolução tecnológica no sistema financeiro, mas também oferece ao governo um controle mais preciso sobre a oferta monetária. Isso proporciona uma oportunidade valiosa para a implementação de políticas econômicas mais ágeis e eficazes.
Com a capacidade de monitorar e controlar a circulação do Drex, os bancos centrais podem ajustar a oferta de moeda de acordo com as necessidades da economia, fornecendo assistência financeira e implementando estímulos monetários em momentos de crise ou emergência. Essa flexibilidade abre portas para medidas mais direcionadas e responsivas para promover a estabilidade econômica.
A introdução do Drex fortalece a segurança e a eficiência das transações, mas também oferece um instrumento poderoso para o governo moldar e sustentar a saúde financeira do país em cenários desafiadores, solidificando assim o potencial para políticas econômicas mais eficazes.
Claudio Just, CBDO da Transfero, concorda que a CBDC vai proporcionar um controle ainda mais eficiente para o governo. “As CBDCs permitem que bancos centrais e governos controlem a oferta de dinheiro e implementem políticas econômicas mais eficazes. Além disso, as CBDCs podem atuar como um canal seguro para fornecer assistência financeira e estímulo monetário em crises ou emergências.”
Qual a função do Drex?
Do ponto de vista da pessoa física, não será possível uma participação ativa na rede do Drex, exclusiva para instituições financeiras. No entanto, ainda será possível obter o Real digital e usufruir de seus benefícios.
Para isso, bastará depositar os fundos em carteiras virtuais das instituições participantes do programa e os fundos serão convertidos em Drex. Dessa forma, os clientes não precisam se preocupar com a segurança da blockchain, afinal, as informações pessoais não estarão armazenadas na rede.
No caso das empresas será um grande diferencial para operações cotidianas, principalmente em transações transfronteiriças, sendo um dos principais usos para essas moedas digitais.
Contudo, Claudio explica que stablecoins já são usadas para transações internacionais, afinal, oferecem menor custo operacional, segurança e velocidade para confirmação dos dados. Por apresentar o valor atrelado a uma moeda fiduciária, as stablecoins possuem total integração com a economia cada vez mais digital.
Stablecoins já oferecem integração com economia digital
Enquanto CBDCs como o Drex continuam em desenvolvimento, as stablecoins como o BRZ já desempenham funções similares a moeda digital emitida por um Banco Central. Após o lançamento do Drex a expectativa é que a CDBC e as stablecoins coexistam colaborativamente, ampliando oportunidades no mercado financeiro.
Essa combinação é uma forma de oferecer flexibilidade financeiras, democratizando o acesso e contribuindo para a inclusão financeira, especialmente para pessoas desbancarizadas no Brasil.
Para Claudio Just “A coexistência de stablecoins privadas como BRZ e CBDCs como Drex representa um cenário onde duas formas de moedas digitais se complementam e se equilibram dentro do sistema financeiro. Esta dualidade das moedas digitais traz vantagens significativas para o mercado emergente e para o sistema financeiro em geral. A coexistência destas duas formas de moedas permite diversificar as opções financeiras, oferecendo aos particulares e às empresas a flexibilidade de escolher a moeda digital que melhor se adapta às suas necessidades e preferências.”
Além disso, Just destaca que a integração entre BRZ e Drex pode estimular a inovação no país. Essas duas camadas vão ajudar a promover a inovação e colaboração entre instituições financeiras, governos e empresas de tecnologia. Uma cooperação que pode resultar em infraestruturas mais robustas e soluções financeiras inovadoras que beneficiam toda a sociedade.
Assim, a integração entre BRZ e Drex, ao explorar a dualidade das moedas digitais, visa estimular a inovação e colaboração entre diferentes partes, incluindo instituições financeiras, governos e empresas de tecnologia. Essa colaboração pode resultar em soluções financeiras mais eficientes e resilientes que beneficiam toda a sociedade. Para Just, o Drex tem tudo para potencializar uma economia cada vez mais digital.
Como o BRZ se diferencia do Drex?
Assim como o Drex, o BRZ também usa tecnologia blockchain. Entretanto, segundo Just, expande para nível global a eficiência e velocidade nas transações comerciais de empresas e pessoas físicas. Além disso, promove o comércio globa, torna a inclusão financeira acessível e oferece mais transparência nas transações.
Além disso, Thiago César, ex-CEO da Transfero, mencionou no Web Summit 2023 que a CBDC não terá integração direta com projetos de finanças descentralizadas (DeFi). Sendo assim, cabe a projetos como o BRZ fazer a ponte entre a moeda digital brasileira e o DeFi.
“CDBCs servem a muitos propósitos, mas são controlados pelos bancos e Banco Central. Eles não estarão no DeFi, porque não tem interoperabilidade. Tem que ter uma stablecoin privada para fazer esse gateway.”
Os benefícios e expectativas com o Drex e stablecoins
A implementação do Drex em operações cotidianas de instituições oferecerá diversos benefícios para a economia e empresas. Espera-se que todo o processo de tokenização de ativos seja na rede Drex, eliminando a necessidade de intermediários e custos atrelados.
“Pense no caso da liquidação de títulos entre instituições. Atualmente, um dos ‘problemas’ enfrentados é a necessidade de ter um agente intermediário para intermediar essa liquidação. Com o Drex, será possível fazer a trocar de dois tokens de foam fácil e sem intermediários, no caso, o título e o Drex” afirmou Kevin Voigt, CEO da Notus Labs e à frente da Kassandra.
Além disso, a convergência entre o Drex e stablecoins como o BRZ cria um ambiente propício para a inovação no setor financeiro. O plano é aproveitar essa conexão entre as duas moedas digitais para criar um sistema de colateralização de ativos, sendo assim, os ativos impulsionam o desenvolvimento do sistema financeiro digital brasileiro a novos patamares, o que é um avanço significativo rumo ao crescimento e prosperidade econômica.
Veja algumas das expectativas para a combinação dessas duas tecnologias financeiras:
Estímulo à Inovação Financeira
As moedas digitais oferecem uma base sólida para desenvolver soluções financeiras avançadas, assim, incentivam a criação de novos produtos e serviços que podem revolucionar a gestão e realização de transações.
Ampliação da inclusão financeira
A coexistência do Drex e das stablecoins diversifica as opções financeiras disponíveis para indivíduos e empresas. Isso promove a inclusão financeira ao oferecer acessibilidade a serviços financeiros para aqueles que estão desbancarizados ou com acesso limitado aos sistemas tradicionais, criando oportunidades econômicas mais igualitárias e abrangentes.
Estabilidade e eficiência nas transações
A presença dessas moedas digitais promete transações mais rápidas, seguras e transparentes. Então, com o Drex facilitando as transações nacionais e stablecoins como BRZ agilizando as operações internacionais (e também nacionais), a economia brasileira pode se beneficiar de um ambiente de negócios mais fluido e ágil.
Estímulo ao comércio internacional
A interação entre o Drex e as stablecoins oferece oportunidades para ampliar o comércio internacional, facilitando transações comerciais com custos reduzidos e rapidez. Isso pode fortalecer as relações comerciais do Brasil com outras nações, expandindo o alcance dos negócios nacionais no mercado global.
Crescimento sustentado da economia
A presença dessas moedas digitais como pilares do sistema financeiro tende a promover um crescimento econômico mais sustentado. A digitalização financeira impulsionada por essas inovações pode oferecer maior estabilidade e resiliência ao sistema, contribuindo para um crescimento econômico mais estável e duradouro.
O Banco Central vai acabar com TED e DOC?
Como a blockchain permite o envio de remessas em poucos segundos, o Banco Central poderá realizar transações de forma praticamente instantânea. Assim, o Drex poderá reestruturar o mercado financeiro nacional, possibilitando encerrar sistemas atuais de envio de dinheiro, como o TED e DOC, pelo alto custo e demora para completar a transação.