Mercado crypto está amadurecendo e bitcoin vai se valorizar, diz CEO da Rispar

Em entrevista ao Panorama Crypto, o CEO da Rispar, Rafael Izidoro, falou sobre o mercado, o comportamento dos usuários de bitcoin e as tendências do setor de crédito

Por Redação  /  11 de agosto de 2021
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Para Rafael Izidoro, fundador da primeira fintech nacional de crédito com garantia em bitcoin, a recente volatilidade da moeda e o comportamento dos usuários da plataforma demonstraram que o mercado está amadurecendo e que quem tem o ativo não quer se desfazer dele.

“Concedemos crédito de até 50% do valor (em bitcoin) deixado como garantia. Quando ocorreu a primeira queda de preços, fizemos uma chamada de margem, solicitando que o usuário aumentasse sua garantia ou quitasse um valor maior da dívida, equilibrando a razão entre garantia e saldo devedor. O resultado foi que todos responderam ao pedido e cumpriram a solicitação”, contou, acrescentando que na segunda queda, a Rispar resolveu fazer uma experiência e não emitiu a chamada de margem.

“Mesmo assim, não tivemos inadimplência. Isso comprova que o mercado está maduro e os usuários não querem se desfazer de seu bitcoin”, disse Izidoro, em entrevista ao Panorama Crypto. Confira os principais trechos da entrevista.

Por que esse movimento dos usuários da plataforma demonstra o amadurecimento do mercado?

Percebemos que as pessoas não querem se desfazer de seu bitcoin, mesmo que o preço tenha caído. Ou seja, são usuários que já entendem o valor daquele bem e confiam em sua recuperação e valorização. Em outras palavras, sabem que não faz sentido vender no momento de queda.

Há até um fato interessante no crédito com garantia em BTC. Em um momento de baixa, muita gente pode se interessar em comprar mais bitcoin, mas não tem dinheiro. Então, é possível obter um empréstimo para isso, deixando o ativo que já possui em garantia. Isso é um indicador de confiança nos fundamentos da moeda.

tendencia para o bitcoin
Em sua opinião, qual a tendência para o bitcoin?

O uso do bitcoin como garantia, sendo um “lastro” para a concessão de crédito, já demonstra que acreditamos muito na sua valorização no longo prazo. Por isso que tomamos esse risco. No curto prazo, acredito que até o fim do ano o BTC tende a se recuperar, alcançando os valores em que estava até março. Já estamos vendo um movimento positivo.

Por exemplo, depois do êxodo dos mineradores da China, que trouxe a primeira queda,  percebemos que outros mercados estão abraçando a mineração. O Texas está inclusive fazendo campanhas para atrair mineradores. Assim, acreditamos que a insegurança desapareça e o bitcoin volte a se recuperar. Falar de número é difícil, mas estou com laser eyes no meu Twitter. Acredito que o BTC vai chegar a US$ 100 mil, mas não representa risco para o dinheiro fiduciário. Podemos até caminhar para isso, mas não nesta geração.

As moedas digitais emitidas por bancos centrais são uma porta de entrada para o universo crypto?

No mínimo, as CBDCs vão despertar a curiosidade das pessoas, que vão querer entender o que é blockchain e saber por que um banco central está usando uma tecnologia criada pelo bitcoin. Mas, na verdade, o real já é digital. Existe o PIX, transferências digitais, cartões virtuais. Qual é a diferença?

A grande mudança vai vir com educação financeira. Quando as pessoas entenderem que a inflação está comprometendo seu patrimônio e buscarem meios de se proteger, acabarão chegando ao conceito de escassez. Hoje, não adianta falar de escassez programada se as pessoas nem entendem o conceito do dinheiro. O real valor do bitcoin é a escassez digital.

Qual é o perfil dos usuários da Rispar?

Como mencionei, são pessoas que confiam no bitcoin e não querem se desfazer do ativo. Nós emprestamos até R$ 300 mil, mas nosso ticket médio é de R$ 30 mil. Percebemos que os usuários que chegam até a Rispar por meio de exchange têm ticket mais baixo, mas o que chega sozinho é investidor, quer crédito de R$ 100 mil, R$ 200 mil…

Por enquanto, emprestamos somente para pessoas físicas, mas vamos lançar o crédito para pessoa jurídica em breve, com todos os cuidados, como ações para prevenção à lavagem de dinheiro e criação de caixa 2.

Como funciona o empréstimo com garantia em bitcoin?

Antes da fundação da Rispar, eu havia criado uma empresa de microcrédito. Na mesma época, conheci o bitcoin, e fui aprendendo mais sobre os seus fundamentos. Ao mesmo tempo, me deparei com problemas do setor de crédito.

Pedir crédito é visto como uma coisa ruim no Brasil. Mas, na verdade, o crédito é importante para fomentar novos negócios. Porém, as taxas de juros são bastante elevadas. Muitas vezes, o risco para quem precisa do crédito é muito alto, a pessoa acaba não conseguindo quitar o empréstimo e isso se transforma em uma bola de neve. Enquanto em países desenvolvidos a taxa de juros é de 1,5%, no Brasil a média fica entre 8% e 9%.

Isso acontece por vários fatores. Por exemplo, quem financia um imóvel e não quita as parcelas pode perdê-lo. Porém, para que o credor receba o valor, acaba havendo um processo, com o imóvel indo a leilão, que pode demorar muito tempo. Com o bitcoin, a liquidação acontece em 10 minutos, que é o tempo para gerar um bloco.

Quando lançamos a plataforma, a taxa de juros era de 0,99% a 3,79% ao mês, o que já era baixo. Agora, conseguimos reduzir ainda mais, com taxa mínima a partir de 0,49%.

Em junho, lançamos um novo produto, chamado Garantia Protegida. Na prática, o usuário aceita pagar uma taxa um pouco maior (entre 0,2% e 0,4% acima da taxa tradicional) e, independentemente de qualquer queda que o BTC sofra, não faremos chamada de margem.

Também trouxemos uma inovação para o mercado de crédito nacional. Até recentemente, usávamos a tabela Price, que inclui a amortização do crédito mais a taxa de juros. Agora, estamos usando o chamado sistema americano de amortização, no qual a pessoa paga somente o valor dos juros mensalmente. Na última parcela, o saldo devedor precisa ser quitado. Isso dá oportunidade ao usuário de utilizar melhor o valor emprestado. Caso não seja possível quitar o valor, refinanciamos.

Outro produto que estamos desenvolvendo é a venda parcelada de bitcoin. Por exemplo, o interessado deixa 1 bitcoin como garantia e parcela em 12 vezes o valor de outro, aproveitando uma ocasião de queda de preços.

Além do bitcoin, vocês fazem empréstimos em outras moedas?

Não. Pretendemos colocar outras moedas no futuro, mas não é nossa prioridade. O bitcoin é a criptomoeda mais usada e queremos atingir um público maior. Também estamos em um processo de modelagem de um novo produto, com stablecoin, mas ainda em fase muito inicial.


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