Entrevista: avanços e desafios da mulher para criar um mercado financeiro mais igualitário

Nem tratamento especial, nem comportamento discriminatório: para Victoria Schulz, equidade de gênero é fundamental e oportunidades devem ser iguais para homens e mulheres

Por Redação  /  8 de março de 2022
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Por mais que a participação feminina no mercado financeiro seja cada vez maior, os desafios para as mulheres que atuam no setor ainda são muitos. Para Victoria Schulz, Head da Transfero Prime, o caminho para isso é não aceitar nenhum tipo de discriminação ou qualquer favorecimento, apenas oportunidades iguais.

“Quero e busco simplesmente ter as mesmas chances de desenvolvimento”, disse ela, em entrevista ao PanoramaCrypto.

A profissional, que iniciou sua carreira em 2018, como estagiária na Transfero, destaca que essa é a melhor maneira de vencer os estigmas criados sobre o universo feminino, como o de que mulheres são frágeis, emotivas e exaltadas.

“Algumas visões equivocadas, que colocam a mulher como uma pessoa mais frágil ou emotiva, precisam ser revistas. Essas características independem de gênero, da mesma forma que outras competências e talentos também”, afirmou.

Confira, nesta entrevista exclusiva, mais detalhes sobre a trajetória de Victoria e a sua visão sobre a participação feminina no mercado.

Como você começou no mercado de criptoativos?

Victoria Schulz – Cheguei a esse mercado, ou melhor, ele chegou até mim, por meio de um convite online do CEO da Transfero, Thiago Cesar, para participar de um processo de seleção de estágio na área de Business Development. Na época (2018), eu cursava engenharia de produção na PUC-Rio e estava em busca de uma oportunidade de estágio.

Lembro de ter pesquisado sobre a empresa e sobre o mercado de criptoativos. Observei que se tratava de uma empresa suíça, que ainda estava iniciando suas atividades, e que o setor de criptoativos ainda gerava desconfiança, por se tratar de um mercado novo.

À medida que fui aprendendo mais sobre o setor, descobri as diversas portas e possibilidades que ele abre e enxerguei nele um grande potencial disruptivo. Achei que seria uma experiência interessante, por se tratar de um mercado em ascensão e uma empresa que ainda estava em fase inicial, com potencial de crescimento. Sendo assim, aceitei a proposta.

Como foi sua trajetória profissional ao longo destes anos, desde o início na Transfero?

Victoria Schulz – Como comentei antes, iniciei minha trajetória profissional no mercado financeiro em 2018, atuando como estagiária na área de Business Development da Transfero. Na época, a empresa contava com menos de 20 funcionários e tínhamos uma sala pequena em um coworking, em Ipanema (Rio de Janeiro). O mercado de criptoativos ainda estava em fase inicial de amadurecimento.

Mas, após um ano na Transfero, resolvi fazer uma mudança profissional, a fim de ter uma experiência em uma instituição financeira que atuasse nos mercados tradicionais. Assim, mudei para o banco BTG Pactual, no qual atuei por aproximadamente três anos na área de Middle para o segmento de Investment Banking e Wealth Management. Tenho muito respeito e gratidão pela instituição e por todas as pessoas que tive o prazer de conhecer, pois o BTG foi uma grande escola para mim. Aprendi muito e me desenvolvi muito profissionalmente.

Após esse período, resolvi retornar ao mercado de criptoativos e retornar para a Transfero, onde identifiquei uma grande oportunidade de crescimento. A empresa tem crescido exponencialmente e é incrível acompanhar e participar desse desenvolvimento. Em pouco tempo de empresa meu trabalho foi reconhecido e recebi a proposta de assumir a posição de Head da unidade de negócio Transfero Prime, cujo foco é auxiliar o público de maior poder aquisitivo a navegar no universo de investimentos em criptoativos.

Poderia falar mais sobre sua rotina exercendo essa função?

Victoria Schulz – Quando recebi o convite para assumir essa área, fiquei muito animada, apesar de saber que seria um grande desafio profissional, acompanhado de um aumento considerável de responsabilidade e cobrança. Minha primeira missão foi fazer um diagnóstico da área. Realizamos um redimensionamento da equipe e abrimos algumas vagas, principalmente para o time comercial.

Minha rotina é bastante dinâmica. Tenho diversas reuniões durante o dia, tanto internas, para realizar alinhamentos com as diferentes equipes, quanto externas, com clientes. Há muitas iniciativas acontecendo simultaneamente, novas ideias e projetos!

Confesso que tem períodos que são tão corridos e me sinto tão envolvida no que estou fazendo que gostaria de ter mais horas no dia! Mas, eu não estou sozinha nessa. A Transfero conta com uma equipe incrível de funcionários altamente capacitados, com quem sei que posso contar e dividir as responsabilidades. Ver a Prime e a Transfero crescendo é maravilhoso, poder participar e dividir cada pequena vitória com o time é o que mais me motiva!

Quais são os desafios de atuar em um segmento que ainda é predominantemente masculino?

Victoria Schulz – Os desafios da atuação das mulheres no mercado financeiro ainda são muitos e acredito que o motivo disso são raízes históricas que ainda influenciam a sociedade e o mercado de trabalho. Felizmente, a participação feminina vem crescendo nesse setor, o que contribui para reduzir cada vez mais as diferenças entre os homens e as mulheres.

Acredito que um dos maiores desafios das mulheres seja o de mostrar que a aparência não influencia na competência. Ainda existem homens que acreditam que essas duas coisas não andam juntas. Além disso, existe um desafio diário em vencer todos os estigmas criados sobre o universo feminino, como o de que mulheres são frágeis, emotivas e exaltadas. Existem mulheres com essas características, assim como homens também.

A maneira como lido com isso é não aceitar ou buscar tratamento especial que me favoreça e nem qualquer tipo de discriminação que prejudique a minha trajetória profissional. Quero e busco simplesmente ter as mesmas oportunidades.

Com relação ao mercado de criptoativos, acredito que poder fazer escolhas e não depender de ninguém, e aqui nem me refiro somente ao parceiro, e sim aos bancos, governos e qualquer intermediário, é a coisa mais valiosa que se pode querer. Esse setor permite essa liberdade. As oportunidades financeiras estão disponíveis para todos, independentemente do sexo.

A que você atribui o seu sucesso profissional?

Victoria Schulz – Trabalhar sempre teve um significado muito importante na minha vida. Fui criada em uma família majoritariamente alemã e acredito que eu tenha absorvido muitos valores dessa cultura, como o senso de responsabilidade e busca por independência.

Ter muita resiliência, postura, responsabilidade e vontade de crescer foram fatores determinantes para alcançar minha posição atual. Busco dar sempre o melhor de mim em tudo que eu faço. Sou ambiciosa e tenho sede por novos desafios – quando estou muito confortável em uma posição fico desmotivada. Preciso estar sempre aprendendo coisas novas e me desenvolvendo. Adoro sentir aquele frio na barriga! Para mim esse é o maior sinal de que estou trilhando o caminho certo.