DAO se torna “clube exclusivo” para quem gosta de cripto

Friends with Benefits mostra como uma DAO pode ir além do mercado digital

Por Redação  /  25 de março de 2022
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Imagine um clube onde apenas quem entra são aqueles que têm determinado criptoativos nos wallets. Uma festa cujo VIP é um criptoativo. Um evento com os artistas e vozes do mercado, mas apenas para quem estiver autorizado a receber o criptoativo. Seja bem-vindo ao “Friends with Benefits”, um clube exclusivo que promove festas em cidades pelo mundo, um espaço fechado para conversas digitais sobre criptoativos, um lugar de promoção para artistas novos e… uma DAO. 

DAO é a sigla usada para designar as Organizações Autônomas Descentralizadas. Ou seja, as organizações em blockchain que se baseiam em contratos inteligentes para permitir que todos os participantes consigam decidir sobre os protocolos e sobre contratos inteligentes lançados por ali. Cada membro da DAO é também um acionista e as regras são incorporadas ao código do sistema. 

Criada em 2020, a Friends with Benefits começou,  como um grupo para reunir artistas e músicos que estivessem experimentando o mundo cripto. Segundo o fundador, Trevor McFedries, a ideia era abrir uma conversa franca entre criadores, desenvolvedores e interessados no segmento. 

O que era um canal de chat privado no Discord acabou se transformando em uma DAO com a seu próprio criptoativo,  a FWB. Entre 2020 e 2021, o pequeno grupo atingiu  quase 2 mil membros. “Ao unir nossa comunidade por meio de um token social – o $FWB – os membros podem ter certeza de que todos no grupo estão dando a cara à tapa. Ao provocar o futuro do acesso com permissão de token, o Friends With Benefits se esforça para mostrar como uma comunidade pode alcançar escala sem diminuir a qualidade ao longo do caminho”, informa o manisfesto da FWB.

E, com a volta dos eventos presenciais, passaram a ter eventos próprios, festas e, até mesmo, lançamento de produtos exclusivos.

O novo Homebrew Computer Club

Para alguns, estar neste clube lembra um outro famoso clube de “aspirantes” em tecnologia: o Homebrew Computer Club, que aconteceu entre 1975 e 1986 no Vale do Silício, reunindo apaixonados por computação (como era chamado na época) para discutir sobre os caminhos que o mundo digital poderia tomar. Muitos indicam o Homebrew Computer Club como o lugar onde nasceu a Apple, já que foram as conversas e apresentações feitas ali que deram um empurrão para Steve Wosniak e Steve Jobs (dois membros do HCB) criarem o Apple 1.

Outros comparam o FWB com uma “SoHo House”, grupo de clubes privados voltados para ?, além de ter membros que fazem parte do meio político e de mídia.  

A comunidade funciona como uma  descoberta de música, espaço para publicar textos, incubadora de startups ou, melhor, “um terminal da Bloomberg para investidores de cripto”. A capacidade de juntar os debates em crypto numa audiência exclusiva foi bem recebida no mercado: no úlimo ano, a Andreesen Horowitz investiu US$ 10 milhões no Friends with Benefits

Friends with Benefits: mais do que uma DAO

Para participar do grupo e obter os FWBs, é preciso passar por um processo seletivo, com um questionário grande que é visto pelos membros atuais do FWB. Apenas 20% dos pedidos são aprovados, mas ainda assim não recebem todos os benefícios do grupo.

Membros com pelo menos um token da FWB podem receber as newsletters e ler os posts do blog. Com cinco tokens a pessoa consegue ser “membro local”, com acesso limitado a alguns grupos de chat no Discord e convite para eventos offline. A assinatura “global” custa 75 FWB, algo próximo de US$ 4,3 mil em valores atuais, e dá acesso a todos os pontos de contato do clube.

“Eu queria um espaço onde os meus pares criativos, que eram tão céticos com relação à tecnologia e finaça, pudessem ver uma luz no final do túnel”, disse Trevor McFedries, fundador do FWB, em entrevista ao NYT  Segundo McFredies, ligar um criptoativo à entrada ao clube online deu aos membros o incentivo para sempre tornar as discussões interessantes e para deixar o espaço “divertido de se participar”. Quanto mais diversão as pessoas estão tendo, disse McFredies, mais usuários vão querer entrar no clube, o que vai adicionar valos aos tokens.  

Cidade digital da FWB

Quando investiu os US$ 10 milhões, a Andreessen Horowits comunicou que o FWB vai além dos protocolos de DeFi e cria uma comunidade. “É um novo tipo de DAO. O FWB se tornou a casa da nova classe criativa do web3”, eles comentaram no anúncio. A FWB, criada através da rede Ethereum, se autointitula uma “cidade digital”. Tanto que um dos heads da empresa, Alex Zhang, tem o cargo de “prefeito”. 

“Há muito valor sendo criado na FWB hoje em dia. Pessoas estão lançando projetos de NFT juntas, estão criando empresas juntas. O valor das amizades estão agora sendo capturados pela rede”, disse  Zhang, ao New York Times. Um exemplo é o designer Eric Hu, que lançou uma série de NFTs no começo do ano passado, e ele dividiu os tokens com  membros do FWB como um agradecimento pelo sucesso. “Você faz parte de uma comunidade e sente que todos estão enriquecendo juntos”, disse um dos membros da FWB ao Coindesk

“Falamos da Reebok até Hennessey e conseguimos atravessar essas pontes. Conseguimos explicar o potencial do cripto e da web3 para esses espaços mais tradicionais”, disse Zhang, que ainda comentou que existem projetos de festivais de música e de cinema em desenvolviemento na FWB. 

Friends with Benefits e o Chimarrão 3.0

E a cidade digital chegou ao mundo físico por meio de um restaurante e de um drink. O restaurante, no caso, é o Hop Louie, localizado em Chinatown, em Los Angeles. Os membros do grupo se preparam para comprar uma parte deste espaço físico e transformá-lo, de fato, em um clube como extensão do FWB. A receita gerada do restaurante vai ser mantida no ecossistema da DAO, e, porque o FWB é uma organização descentralizada, todas as estratégias adotadas ali podem ser votadas (e canceladas) em grupo. 

Já o drink não é nada mais, nada menos do que uma versão gaseificada e gelada do chimarrão. Em dezembro de 2021, os membros do FWB concordaram em investir US$ 18,53 mil dos cofres da DAO para desenvolver um drink de erva mate. Quando o produto estiver pronto para ir para as ruas, a ideia é usar o FWB para promovê-lo nos eventos, dando a ele um selo de exclusividade capaz de torná-lo popular. 


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