Blockchain nas eleições: esse é o futuro?

Uso da tecnologia em sistemas eleitorais ainda gera debates, principalmente no que diz respeito à metodologia da aplicação em larga escala, inclusão digital e segurança

Por Rafael Maia  /  9 de setembro de 2024
Imagem gerada por Inteligência Artificial
Imagem gerada por Inteligência Artificial
A utilização da tecnologia blockchain nas eleições tem gerado intensos debates sobre sua segurança, inclusão digital e aplicabilidade em larga escala. Embora a blockchain ofereça benefícios como imutabilidade dos votos, acessibilidade e maior transparência, especialistas alertam para os riscos de segurança, privacidade dos eleitores e vulnerabilidades a ataques cibernéticos. Estudos, como os realizados pelo MIT, sustentam que a tecnologia pode não ser a solução para os complexos problemas eleitorais, citando falhas em aplicações como a Voatz. Além disso, a implementação da blockchain pode agravar desigualdades digitais, excluindo aqueles com menor acesso a tecnologias.

Resumo supervisionado por jornalista.

Nos últimos anos, a ideia de utilizar redes blockchain nas eleições ganhou força como uma solução para enfrentar os desafios de segurança e transparência dos processos eleitorais. A tecnologia, que sustenta criptomoedas como o bitcoin, tem sido apontada como um meio para garantir a integridade dos votos, evitar fraudes e possibilitar auditorias transparentes. Mas a visão otimista é contraposta por críticas, principalmente em relação à segurança, inclusão digital e aplicabilidade em larga escala. 

Benefícios do blockchain em sistemas eleitorais

O Cointelegraph destaca a blockchain como potencial para transformar as eleições à medida que é um sistema descentralizado, no qual cada voto pode ser registrado de maneira imutável. Ao mesmo tempo, a rede permitiria a verificação de todos os votos de forma distribuída, ampliando a validação e segurança do processo. Confira a seguir três benefícios da adoção de blockchain em sistemas eleitorais.

Imutabilidade e segurança

A principal vantagem do blockchain em eleições é sua estrutura imutável. Uma vez registrado, um voto não pode ser alterado ou removido, garantindo que não haja manipulação dos resultados. Além disso, por ser uma rede distribuída, qualquer tentativa de fraude é facilmente detectada, pois exigiria o comprometimento de todos os nós da rede.

Acessibilidade

Com a blockchain, a votação pode ser realizada por dispositivos móveis, o que permite ao eleitor exercer seu direito de voto de qualquer lugar, desde que tenha acesso à internet. Esse aspecto é especialmente importante para pessoas com mobilidade reduzida ou eleitores que vivem no exterior.

Transparência e auditabilidade

A blockchain permite que cada voto registrado seja rastreável, sem comprometer o anonimato do eleitor. Essa transparência possibilita que qualquer pessoa ou organização auditável acompanhe o processo em tempo real, desde o registro até a contagem dos votos. 

Desafios que a blockchain pode enfrentar

Apesar dos destaques positivos apresentados, há uma corrente que enxerga que a utilização da infraestrutura blockchain em eleições deve ser feita de maneira mais comedida. Estudos e matérias apontam para problemas que podem comprometer a integridade do processo eleitoral, com explicações que julgam, inclusive, os pontos benéficos expostos anteriormente, como pontos de atenção e preocupação.

Segurança e acessibilidade pesam contra a blockchain nas eleições

Já um estudo do MIT, discutido pela Coindesk, apresenta uma visão mais cautelosa. Em suma, ele rejeita a ideia de que a blockchain possa resolver os problemas complexos das eleições modernas e justifica a cautela apontando problemas de segurança dos dados,  privacidade dos eleitores e vulnerabilidade a ataques cibernéticos. 

A pesquisa argumenta que, embora a blockchain seja eficaz para transações financeiras, sua aplicação em sistemas eleitorais apresenta riscos de ataques distribuídos de negação de serviço (DDoS), o que poderia comprometer a integridade das eleições.

Essa crítica é reforçada por um artigo da MIT Technology Review Brasil, que examina a possibilidade de aplicação da blockchain nas eleições americanas. A matéria pontua que, apesar do entusiasmo de alguns setores, as tentativas de implementar o voto em blockchain nas eleições dos Estados Unidos encontra “resistência significativa”. 

Um relatório discutido em outro artigo do Cointelegraph destaca as falhas de segurança de uma aplicação específica de blockchain chamada Voatz. Essa foi utilizada em algumas eleições nos Estados Unidos, como nas prévias presidenciais na Virgínia Ocidental, no Condado de Jackson e de Oregon, e no Condado de Umatilla. A aplicação se estendeu para as eleições municipais do condado de Utah e em Denver, no estado do Colorado.

Empecilhos técnicos também são citados

Segundo o relatório, a Voatz apresentava inúmeras vulnerabilidades que poderiam permitir a interceptação e a manipulação dos votos. O app foi criticado por especialistas em segurança por expor os eleitores a riscos significativos, que incluem a possibilidade de comprometerem a privacidade e a integridade do processo eleitoral. 

Essa avaliação negativa reforça a ideia de que, apesar das promessas da blockchain, sua implementação em sistemas de votação ainda enfrenta desafios técnicos.

A questão da acessibilidade é outro ponto de divergência. Embora a blockchain possa facilitar o voto remoto, principalmente para eleitores que vivem no exterior ou em áreas afastadas, ela também pode amplificar as desigualdades digitais na sociedade. 

Isso porque o acesso e a familiaridade com tecnologias seguras são necessários para a participação em um sistema de votação baseado em blockchain, o que poderia excluir eleitores menos favorecidos ou tecnicamente inexperientes.