Empresas relacionadas à exploração espacial têm investido na tokenização espacial para ajudar na criação de infraestruturas mais modernas, além de tornar o investimento no segmento mais acessível.
Embora a maioria dos projetos relacionados ao tema ainda esteja em estágio inicial, já é possível identificar iniciativas que indicam o potencial dessa tecnologia e que devem avançar em breve.
DOGE-1: tokenização espacial com uma meme coin
Trata-se de uma missão idealizada pela Geometric Energy Corporation, paga inteiramente com Dogecoin (DOGE), a meme coin mais famosa do mundo. Elon Musk, dono da SpaceX, anunciou o lançamento do satélite de 40kg em 9 de maio de 2021.
Walter Reid, diretor de comunicações da Geometric Energy, comentou em um artigo que a DOGE-1 “irá para a Lua” – um trocadilho relacionado à expressão “To The Moon”, ligada à euforia dos investidores que acreditam no sucesso financeiro de determinados ativos digitais.
“Ao ter oficialmente realizado uma transação com DOGE para um acordo desta magnitude, a Geometric Energy Corporation e a SpaceX solidificaram o DOGE como uma unidade de conta para negócios lunares no setor espacial”, comentou Reid.
SpaceChain oferece infraestrutura descentralizada para satélites
O projeto SpaceChain propõe reduzir a concentração de mercado em relação ao lançamento de satélites, hoje dominado por empresas de grande porte e elevado capital.
A iniciativa constrói uma rede descentralizada de satélites que operam como nós (nodes) para a blockchain, o que a torna mais segura e resiliente a falhas na Terra. Eles já lançaram cargas de blockchain em satélites de parceiros para testar a comunicação de transações de criptomoedas no espaço. O lançamento de nós em satélites em órbita permitirá, entre outras coisas, a criação de tokens de ativos reais espaciais (RWA).
Um artigo do The Economist comentou a possibilidade de mineração de asteroides em busca de metais preciosos, por exemplo. Com isso, contratos inteligentes poderiam ser desenvolvidos para automatizar boa parte do processo, além de permitir o registro de terrenos em corpos celestes evitando disputas sobre propriedade.
Desafios da tokenização espacial
Algumas questões ainda precisam ser discutidas para que iniciativas do gênero sejam bem-sucedidas e evitem conflitos entre nações:
Tratado do Espaço Sideral de 1967
Proíbe a apropriação nacional de qualquer corpo celeste e estipula que o espaço é “patrimônio comum da humanidade”. Com isso, a tokenização de um asteroide ou de um pedaço da Lua romperia diretamente essa premissa. O token, ao representar a propriedade fracionada, implicaria um direito de posse que, sob a lei internacional atual, não existe.
Conflitos de jurisdição
Caso uma parcela de um corpo celeste seja disputada, é necessário indicar sob quais condições legais ela se enquadra. Por exemplo, se um terreno na Lua for ocupado e registrado como propriedade dos Estados Unidos, aplicam-se as leis norte-americanas ou um acordo internacional?
Segurança
Tokens vinculados a ativos de alto valor podem atrair ataques cibernéticos. Com isso, satélites avaliados em bilhões de dólares podem se tornar alvo, o que redobra a necessidade de cautela e de medidas de proteção robustas
Avaliação de ativos
Precificar o valor de um corpo celeste é complexo e a especulação seria o principal motor dos preços. Isso aumentaria a volatilidade dos ativos e, consequentemente, as incertezas em relação ao ingresso em tais mercados.
Perspectivas
A tokenização espacial tende a avançar, mas ainda exige ajustes técnicos e acordos comerciais sólidos para alcançar o mercado financeiro global. Mais do que discutir “como” tokenizar, será necessário definir “o que” tokenizar e “sob qual lei” essas transações poderão ocorrer.
