O Open Finance é uma iniciativa que permite a troca simplificada de dados de usuários entre diferentes instituições financeiras, desde que haja autorização expressa do consumidor. Com isso, a intenção é simplificar e facilitar a aquisição de produtos e serviços em diferentes plataformas: por exemplo, ampliando a oferta de crédito e a gestão financeira de empresas recém-criadas (startups).
Do ponto de vista de gestão, os agregadores financeiros permitem que as contas sejam conectadas em um único repositório, facilitando a gestão de entradas e saídas. Isso é feito através de aplicativos, que podem analisar o portfólio automaticamente e oferecer insights para otimizar as operações de startups e também empresas de outros tamanhos.
Já acerca dos meios de financiamento, a solução estimula a criação de ecossistemas diferentes, como as plataformas de crowdfunding, que podem conectar empreendedores a investidores em potencial com maior facilidade.
“O poder nas mãos do cliente”
Carteiras digitais também podem ser criadas para realizar pagamentos e transferências de forma mais prática. Essa característica, segundo o diretor executivo da Associação Brasileira de Fintechs (Abfintechs), Carlos Oliveira, favorece a criação de plataformas de pagamento dedicadas, inclusive com hiperpersonalização para pequenas empresas focadas em nichos de mercado.
Oliveira resumiu que, com o Open Finance, “o poder fica nas mãos do cliente, ao contrário do que é feito hoje”. Segundo ele, para conseguir integrar os dados de mais de uma instituição sem a solução, é preciso ter um “trabalho enorme” de modo que, na prática, o cliente fica preso na instituição por não conseguir ter uma visão integrada.
Ele e outros especialistas participaram do painel “Open Finance: A Gateway to Startups”, oferecido pela Transfero durante o Web Summit Rio 2024.
O que é Open Finance?
Em tradução livre, Open Finance significa finanças abertas. É difícil afirmar com exatidão quando o termo foi primeiramente cunhado, mas foi a partir dos anos 2000 que o comércio eletrônico começou a crescer ao redor do mundo, desafiando o modelo tradicional de bancos como intermediários exclusivos das transações e estimulando a abertura do sistema financeiro.
A União Europeia (UE) lançou, em 2015, a Diretiva de Serviços de Pagamento (PSD2), revisada em março de 2018. Ela estabelece um marco regulatório a respeito do compartilhamento de dados financeiros entre instituições e essa diretiva é considerada um dos principais marcos do Open Finance.
Mais características
Interoperabilidade
Tecnologias blockchain podem ser incorporadas tanto em soluções descentralizadas quanto centralizadas, permitindo a intercomunicação entre elas. Isso também permite que as instituições financeiras tradicionais troquem informações de maneira mais rápida e confiável, resguardando os interesses de todas as partes envolvidas.
Personalização de serviços
O universo Web3 trouxe à tona diversas modalidades de investimentos que não existiam no mercado financeiro tradicional. Bancos, seguros e outras instituições estão abraçando produtos cripto para ampliar o portfólio de seus clientes.
Inovação
O Open Finance estimula a criação de novos serviços financeiros, como plataformas que agregam informações de diferentes instituições em um único aplicativo, ou soluções que permitem a criação de produtos financeiros sob medida.
Experiência do usuário
Ter uma visão completa dos gastos e investimentos é um dos pontos centrais de uma economia saudável. É possível conectar todas as contas bancárias em um único aplicativo, facilitando o acompanhamento dos gastos e investimentos.
Regulação do Open Finance no Brasil
No Brasil, o Banco Central (BC) criou a Resolução Conjunta nº 1/2020, que visa estabelecer normas para o Open Finance desde a definição de conceitos até os tipos de instituições participantes e prazos para a adoção das regras. Ao longo dos últimos anos, a autarquia vem lançando resoluções complementares para detalhar e ajustar as regras iniciais, adaptando-as às tecnologias emergentes e às necessidades mais pontuais do mercado.
O marco regulatório tem como pilares a segurança dos dados pessoais dos usuários, a segurança da informação, a não discriminação, a transparência e a interoperabilidade. Em 2023, mais de 40 milhões de clientes aderiram ao Open Finance no Brasil, mostrando que as diretivas do BC têm obtido sucesso. A nível de comparação, em 2022 haviam cerca de 18 milhões de consentimentos à solução no país.
Leandro Manzoni, editor-chefe do portal Investing, foi o mediador do painel citado durante o Web Summit Rio 2024 e explicou que, devido à regulação, os dados dos clientes deixam de ser, jurídica e efetivamente, propriedade das instituições financeiras. “Uma coisa interessante é que os dados financeiros e bancários são do cliente. Não é mais como anteriormente, quando pertenciam aos bancos e outros agentes econômicos”, reforçou.
Para Carlos Oliveira, da Abfintechs, essa característica pode ter grande serventia às empresas e já há fintechs focadas na oferta. “Hoje, uma empresa precisa juntar essas informações, colocá-las em um software de gestão de gastos diariamente e, depois, entrar no site do banco, o que gera confusão”, comentou.
Durante o Febraban Tech 2024, realizado em São Paulo no final de julho, a fintech Iniciador – focada na infraestrutura do Open Finance – demonstrou que, como estrutura, a solução tem sido mais adotada nos casos de oferta de crédito por parte das instituições financeiras. Porém, ela tende a avançar para outros serviços, como a gestão de contas, avaliação de escore, onboarding de clientes e outras.
Esses avanços, para Marcelo Martins, CEO da Iniciador, estão baseados na natureza conceitual do Open Finance, que visa ser uma solução interna das instituições. Em outras palavras, ele afirmou que a solução não deve ser a parte visível para o consumidor final, como é o PIX e as criptomoedas, para ficarmos em dois dos principais exemplos de aplicações.
Open Finance e Criptomoedas: uma relação promissora
Embora o Open Finance e as criptomoedas representem polos diferentes do mundo financeiro, eles têm mais pontos convergentes do que o contrário. A descentralização é um exemplo.
Os dois universos buscam descentralizar o sistema financeiro tradicional, normalmente dominado por um pequeno grupo de players. Isso, no fim do dia, visa garantir mais autonomia aos usuários, diminuindo a necessidade de intermediários.
A transparência é outra característica comum das duas soluções, já que os usuários podem acompanhar as transações com mais clareza e operar de acordo com os seus interesses em uma única plataforma, com mais facilidade.
Já a acessibilidade de ambas as soluções pode ajudar a democratizar o acesso à economia, sobretudo em cidades de baixa renda.
A integração com as blockchains fortalece a lista de vantagens comuns do Open Finance e do mercado cripto, principalmente com a agregação de tokens não fungíveis (NFTs) e outras modalidades de investimentos Web3 em carteiras digitais e plataformas de investimento tradicionais.
Lembrando que tecnologias blockchain podem ser incorporadas tanto em soluções descentralizadas quanto centralizadas, isso permite que as instituições financeiras tradicionais troquem informações de maneira mais rápida e confiável nesta rede, resguardando os interesses de todas as partes envolvidas.
Com a contribuição do mercado cripto, portanto, o ecossistema Open Finance no Brasil não para de crescer. De acordo com o Portal Open Finance Brasil, até setembro de 2024 o número de instituições que aderiram ao mecanismo aumentou significativamente, superando a marca de 1,5 mil participantes. Esse resultado reflete o engajamento de bancos, fintechs e outras instituições financeiras na troca de dados para facilitar a oferta de serviços.
Em setembro de 2023, para nível de comparação, esse ecossistema contava com pouco mais de 900 instituições participantes.