Como uma exchange descentralizada (DEX), como a Uniswap, consegue operar 24 horas por dia, permitindo que milhares de usuários troquem tokens instantaneamente, sem ter uma empresa por trás com uma equipe de operadores combinando ordens de compra e venda? A resposta está em uma das tecnologias mais revolucionárias das Finanças Descentralizadas (DeFi): o Automated Market Maker (AMM).
Os AMMs são o motor que impulsiona a liquidez e as negociações no universo DeFi. Eles substituíram o modelo tradicional do livro de ofertas por um sistema automatizado, aberto e acessível a qualquer pessoa.
Confira o que é um AMM, como sua fórmula matemática funciona, sua relação com os pools de liquidez e os principais conceitos que todo investidor precisa conhecer, como slippage e impermanent loss.
O modelo tradicional: por que o livro de ofertas é ineficiente na blockchain?
Para entender a inovação do AMM, primeiro precisamos olhar para o modelo tradicional. Em uma bolsa de valores ou em uma exchange centralizada, as negociações ocorrem através de um livro de ofertas (order book). Nele, compradores e vendedores registram suas ordens a preços específicos. A exchange, então, atua como um intermediário, “casando” uma ordem de compra com uma ordem de venda correspondente.
Tentar replicar esse sistema diretamente na blockchain seria extremamente lento e caro. Cada ação — criar uma ordem, cancelá-la ou modificá-la — exigiria uma transação na rede, com o pagamento de taxas de gás (gas fees). Isso tornaria a atividade de market making (criação de mercado) inviável para a maioria dos participantes, resultando em baixa liquidez e uma péssima experiência de negociação.
A solução DeFi: o que é um Automated Market Maker (AMM)?
O AMM surge como uma solução para conciliar ordens de compra e venda de ativos fora do order book. Então, em vez de depender de um intermediário para parear ordens, o AMM funciona como um sistema automatizado para criar mercados e precificar ativos.
Definição: o robô que cria o mercado
Um Automated Market Maker é um tipo de protocolo de exchange descentralizada que se baseia em um smart contract para definir os preços dos ativos e executar as trocas. Em vez de negociar contra outros traders em um livro de ofertas, os usuários negociam diretamente contra um fundo de tokens, conhecido como pool de liquidez.
A melhor analogia é pensar que, em uma DEX com AMM, você não está negociando com outra pessoa, mas sim com um “fundo” regido por regras matemáticas automáticas e imutáveis, executadas por um smart contract.
Componentes essenciais de um AMM
Um AMM não funciona sozinho. Ele depende de dois componentes fundamentais, que são as duas faces da mesma moeda:
- Pools de liquidez: fundos que contêm os pares de tokens disponíveis para negociação (ex: BRZ/ETH).
- Provedores de liquidez (LPs): usuários que depositam seus tokens nesses pools, fornecendo o “combustível” para que as negociações possam acontecer. Em troca, eles são recompensados.
Como um AMM funciona? A matemática da liquidez
O AMM depende de uma fórmula matemática para funcionar, pois ela garante que o sistema tenha sempre um preço para qualquer ativo, não importa o tamanho da negociação.
A fórmula do produto constante (x * y = k)
A fórmula mais clássica e utilizada pelos primeiros AMMs (como a Uniswap V2) é a do produto constante: x * y = k.
- x = a quantidade do token A no pool.
- y = a quantidade do token B no pool.
- k = uma constante.
A regra é simples: o produto da quantidade dos dois tokens no pool deve permanecer constante após cada negociação. Vamos a um exemplo prático com um pool de BRZ/ETH:
Exemplo:
Imagine um pool com 10 ETH (x) e 30.000 BRZ (y). O valor constante (k) é 10 * 30.000 = 300.000. O preço implícito de 1 ETH é 3.000 BRZ.
Um trader quer comprar 1 ETH. Então, ele precisa depositar BRZ no pool. O AMM calcula quantos BRZ ele precisa adicionar para que, após a retirada de 1 ETH, o produto k permaneça 300.000.
O resultado será que o pool agora terá 9 ETH e aproximadamente 33.333 BRZ. O novo preço implícito de 1 ETH será de 3.703 BRZ (33.333 / 9). O ato da compra tornou o ETH mais caro.
Slippage (derrapagem): a consequência da negociação
O exemplo acima ilustra perfeitamente o conceito de slippage (ou derrapagem). Ele representa a diferença entre o preço que o trader esperava pagar (3.000 BRZ por 1 ETH) e o preço que ele efetivamente pagou (3.333 BRZ por 1 ETH).
O slippage ocorre porque a própria negociação altera a proporção de ativos no pool, impactando o preço. Ele é maior em negociações de grande volume ou em pools com baixa liquidez.
O risco para os provedores de liquidez: Impermanent Loss
O mecanismo de rebalanceamento constante do AMM, que é o que permite as negociações, gera um risco específico para os Provedores de Liquidez: a Perda Impermanente (Impermanent Loss). Este é um dos conceitos mais importantes e mal compreendidos do DeFi.
Tipos de AMMs e onde encontrá-los
O mercado DeFi evoluiu muito, e a fórmula x * y = k foi apenas o começo. Os protocolos das AMMs já evoluiram e as DEXs mais conhecidas, como Uniswap, PancakeSwap, Curve e SushiSwap, são todas construídas em torno de diferentes tipos de AMMs.
A Uniswap V3, por exemplo, introduziu o conceito de “liquidez concentrada”, permitindo que os LPs aloquem seu capital em faixas de preço específicas, tornando o uso do capital muito mais eficiente.
Outro exemplo é a Curve Finance que utiliza uma fórmula otimizada para a troca entre stablecoins, garantindo um slippage muito baixo.
A revolução da liquidez descentralizada
Os Automated Market Makers são uma das inovações mais importantes da história das criptomoedas. Eles resolveram o problema da liquidez de forma simples e descentralizada, permitindo a criação de mercados abertos, automatizados e acessíveis a qualquer pessoa com uma conexão à internet.
Ao substituir o complexo e centralizado livro de ofertas, os AMMs não apenas tornaram as negociações em DeFi viáveis, mas também criaram um novo universo de possibilidades para a geração de renda passiva.
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