GENIUS Act estabelece regras para stablecoins e posiciona EUA como referência regulatória

Nova legislação define diretrizes para emissão regulada, atrai instituições financeiras tradicionais e pode inspirar modelos em mercados emergentes

Rafael Maia  /  18 de agosto de 2025
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A recém-sancionada GENIUS Act estabelece regras para a emissão de stablecoins nos Estados Unidos, oferecendo maior segurança jurídica para instituições financeiras e permitindo que bancos emitam suas próprias moedas digitais. Com diretrizes que incluem reservas de baixo risco e auditoria anual, a legislação visa integrar o sistema bancário tradicional ao setor cripto e posicionar os EUA como referência regulatória global, potencialmente influenciando mercados emergentes como o Brasil. A aprovação também pode inspirar legislações semelhantes em outros países, promovendo a confiabilidade e a resiliência do ecossistema de stablecoins.

Resumo supervisionado por jornalista.

A GENIUS Act, recém-sancionada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, marca um novo capítulo na história das criptomoedas por ser a primeira lei americana dedicada às stablecoins. O texto estabelece diretrizes que resultam em maior segurança jurídica para as instituições financeiras. 

O novo marco legal remove barreiras que afastam o sistema bancário tradicional do setor cripto ao permitir a emissão regulada de stablecoins com lastro em reservas de baixo risco, como dólar ou títulos do Tesouro, e auditoria anual. Além de impulsionar a inovação financeira nos EUA e adoção dessas moedas digitais no mercado, a medida também posiciona o país como referência regulatória, com potencial de influenciar a evolução de outros mercados globais de ativos digitais, como o Brasil.

Contexto da GENIUS Act nos EUA

Aprovada por ampla maioria na Câmara dos Representantes (308 votos a favor e 122 contra), a GENIUS Act – sigla para Guiding and Establishing National Innovation for US Stablecoins – estabelece regras federais específicas para criptomoedas lastreadas em ativos estáveis. O objetivo é garantir um ambiente financeiro regulado e seguro para que as criptomoedas explorem soluções inovadoras de maneira sustentável.

Uma das mudanças centrais que compõem a legislação é a autorização para que bancos norte-americanos emitam suas próprias stablecoins. Isso significa que instituições financeiras tradicionais poderão competir com emissores privados como Tether (USDT) e Circle (USDC). A clareza regulatória tende a atrair novos players institucionais, que antes se mantinham afastados devido à insegurança jurídica, e a ampliar o uso para soluções mais robustas em pagamentos, transferências internacionais e integração de serviços financeiros digitais.

De acordo com o escritório de advocacia Wilmer Cutler Pickering Hale and Dorr, as entidades autorizadas a emitir as stablecoins de pagamento se enquadram em três categorias:

  1. subsidiárias bancárias aprovadas
  2. instituições não bancárias aprovadas pelo governo federal
  3. emissores licenciados pelo estado e aprovados por reguladores estaduais. 

Além disso, o uso de stablecoins emitidas por entidades estrangeiras só será permitido nos EUA caso estejam regulamentadas por um regime comparável ao americano.

A GENIUS Act é acompanhada do CLARITY Act e da Anti-CBDC Surveillance State Act. A primeira define quando um criptoativo deve ser classificado como valor mobiliário e, por consequência, se deve ficar sob a supervisão da Comissão de Valores Mobiliários (SEC). Já a segunda lei proíbe o Federal Reserve de lançar sua moeda digital de banco central (CBDC, na sigla em inglês).

Impacto no mercado global

A aprovação da lei já provoca impacto entre emissores e novos mercados. A Tether (USDT), sediada em El Salvador, manifestou interesse em retomar uma estratégia doméstica nos EUA com foco no mercado institucional, segundo o CEO Paolo Ardoino. Ao adotar as diretrizes americanas, ou um regime equivalente, a negociação da stablecoin USDT em outros países, poderá seguir o mesmo padrão, o que consolida o papel dos EUA como referência regulatória global. A empresa tem como meta a expansão para mercados emergentes.

Da mesma forma, a GENIUS Act cria um precedente que pode inspirar legislações semelhantes em outros países. Ao oferecer um arcabouço jurídico claro, incentiva a consolidação de emissores pautados na estrutura proposta pela legislação, o que fortalece a confiabilidade e a resiliência do ecossistema global de stablecoins.

No Brasil, o vice-presidente de estratégia e políticas para Brasil e América Latina na Circle, Daniel Mangabeira, destacou a importância da interoperabilidade jurídica como um conceito que não pode ser desperdiçado se o país quiser criar uma estrutura capaz de explorar o potencial do seu próprio mercado. De acordo com o Valor Econômico, o termo foi usado no contexto do GENIUS Act e aborda como aproveitar regulações reconhecidas de outros países na jurisdição nacional.


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