Unir e fortalecer o universo cripto no Brasil faz parte dos esforços de centenas de empreendedores. Mas, embora o país esteja progredindo positivamente nesse sentido, há questões regulatórias a serem desenvolvidas para a formação de um mercado mais maduro e com captação e retenção de mão de obra qualificada.
É o que avalia Bernardo Srur, CEO da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABcripto). Para ele, pequenos ajustes relacionados à definição de determinados tokens, bem como a construção da interoperabilidade jurídica, dependem intimamente da contribuição de desenvolvedores e de empresas que atuam dentro do universo blockchain.
Nesta entrevista ao PanormaCrypto, o executivo explica como a entidade busca construir uma economia saudável, aberta à inovação e conectada ao mercado financeiro tradicional. Acompanhe.
Como e por que a ABcripto foi criada?
A ABcripto foi fundada em 2018, embora tenha sido idealizada anteriormente. O objetivo sempre foi unir o setor cripto. Somos uma iniciativa que responde às perguntas das empresas e da sociedade sobre os debates regulatórios, que já vinham ganhando força desde 2015. A entidade nasceu integrada nesse contexto, uma vez que o processo regulatório não ocorre rapidamente — e nem deveria. A inovação precisa ser discutida de forma aprofundada, com base em regras e práticas de autorregulação já consolidadas.
Existe algum tipo de inspiração estrangeira dentro do modelo operacional da entidade?
Esta é uma questão interessante. Não temos inspiração em um país específico; preferimos focar em ações que deram certo no Brasil. Muitas empresas passaram por esse processo de estruturação desde o início e as observamos atentamente. Porém, o modelo de autorregulação da Suíça funciona bem em mercados como o nosso. O Brasil tem um modelo regulatório distinto, o que dificulta a implementação de certas práticas internacionais. No entanto, nosso modelo funciona em solo nacional, utilizando entidades financeiras como um dos braços do mecanismo regulatório — exatamente o que buscamos.
Quais são as principais demandas do setor de criptomoedas no momento?
A autorregulação, por ser mais ágil. E ela deve tratar das “dores” mais urgentes do mercado. Lavagem de dinheiro, por exemplo, é um dos temas mais discutidos entre os empresários. A padronização de certas práticas, como a tokenização de ativos segundo as normas governamentais (se é uma oferta pública, privada etc.), também está no radar. Essas questões precisam ser resolvidas para garantir segurança não apenas financeira, mas também sistêmica e jurídica. Todos os participantes saem ganhando. Outro desafio é como reduzir a curva de aprendizado do público em relação ao universo cripto. Também trabalhamos ativamente nesse sentido.
De que forma a ABcripto pretende contribuir para o processo regulatório brasileiro?
O mais importante é evitar uma discussão polarizada. O ambiente precisa ser positivo para que todos os lados possam se manifestar livremente, diferente do que ocorre nos EUA. Estamos passando por um processo de inclusão e democratização muito forte, que faz parte de um contexto econômico que se desenvolve há décadas. Estudamos e participamos de todos os projetos de lei relevantes. Debatemos com nossos associados para garantir que os objetivos corretos sejam atingidos. Por exemplo, conseguimos evitar os impactos negativos do Ofício Circular 4, que poderia ter retraído do mercado, por meio da intervenção dos nossos parceiros.
Como você avalia ser o cenário ideal para os trabalhadores dessa indústria?
Esta discussão ocorre em todo o Brasil, não apenas no mercado blockchain. A relação empregador-empregado tem mudado muito nos últimos anos, e essa é uma pauta constante em nosso dia a dia. O mercado digital possui características únicas: o home office, por exemplo, ainda gera ressalvas para alguns executivos, mas muitos profissionais do setor estão totalmente adaptados a esse modelo. Em nossa última pesquisa sobre empregos no mercado criptográfico, realizada em 2022, constatamos que o setor empregava mais de 10 mil pessoas de forma direta. Esse número provavelmente é maior atualmente. É um mercado que busca mão de obra com um nível de interação digital mais alto que o de muitos outros.
Existe algum tipo de programa de capacitação promovido pela ABcripto?
Em breve, lançaremos um programa de certificação profissional voltado à criptoeconomia. Esse programa visa incentivar a contratação de profissionais qualificados e criar um senso de comunidade, onde os associados possam colaborar para o aperfeiçoamento técnico do ecossistema.
Quais os possíveis impactos futuros das criptomoedas dentro da economia mainstream?
Vejo uma fusão crescente entre a criptoeconomia e o mercado tradicional de capitais. Isso é evidente na tokenização de ativos tradicionais, que torna mais eficiente e democratiza o acesso a produtos financeiros por meio da tecnologia blockchain. O mercado criptográfico também traz mais agilidade e segurança. Além disso, vemos a integração da Web 3.0 com outros setores, como o de esportes – exemplificado pela Chiliz – e o agronegócio, que pode se beneficiar de transações mais rápidas e transparentes. Em resumo, a economia se tornará mais otimizada e todos os envolvidos terão vantagens.