Muito se fala no mercado financeiro e de criptoativos sobre a necessidade de um programa de Compliance robusto e estruturado, seguindo devidamente as etapas do processo KYC (Know Your Client). Uma etapa que é novidade e faz parte desse processo é o KYT (Know Your Transaction).
O mercado de criptoativos possui como um de seus principais cernes a defesa de maior liberdade em relação ao mercado tradicional. A independência dos agentes públicos é boa por promover o “anonimato” dos usuários, principalmente para casos de grandes volumes transacionados, mas, por outro lado, induz agentes mal-intencionados a atuarem e aproveitarem brechas que um mercado tão promissor possui.
Dessa forma, a área de Compliance atua para mitigar a materialização de riscos relacionados a crimes de fraude, lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo que possam surgir, além de proteger o que é mais importante em um mercado tão sensível: a reputação.
Processo KYT
O termo Know Your Transaction se refere ao rastreamento de criptoativos, seja por meio do histórico transacional da carteira ou do monitoramento contínuo das transações realizadas. Essa verificação une a gama de informações que só o mercado cripto possui, com as boas práticas de um mercado que ainda não é regulado.
A etapa é essencial dentro do processo KYC da empresa, pois visa entender não só o histórico do cliente antes de iniciar o relacionamento comercial, mas também monitora continuamente toda e qualquer transação.
O objetivo do KYT é o mesmo do KYC: coibir quaisquer formas ou oportunidades que agentes mal-intencionados do mercado possuam para se aproveitar de quaisquer falhas que possam existir para praticar crimes financeiros.
A principal ferramenta utilizada pelo mercado é a Chainalysis, uma fornecedora de dados internacional que atua para agências governamentais, instituições financeiras e seguradoras em mais de 60 países. Como diferencial no mercado, a plataforma monitora qualquer tipo de criptoativo, o que equivale a mais de US$ 400 milhões em transações ao mês.
Categorias de risco
O processo de KYT não permite identificar quem é o detentor dos fundos das carteiras, mas possibilita a identificação das categorias em que as carteiras transacionam (discernida entre origem e envio de recursos), montantes, percentuais e datas.
Essas informações são imprescindíveis de serem coletadas em uma análise investigativa, principalmente para entender se a operação realizada foi intencional, ou não.
As principais categorizações de risco estão relacionadas a sanções de:
- Entidades ou de jurisdições;
- Financiamento ao terrorismo;
- Material de abuso infantil;
- Scam;
- Ransomware;
- Mercado darknet;
- Fundos roubados;
- ATM;
- Mixing.
Também há outros temas relevantes, mas a categoria “exchange”, por exemplo, não representa risco relevante.
Diferença mercado tradicional e cripto
O processo Know Your Transaction é pioneiro no mercado financeiro por trazer todas as informações transacionais realizadas da carteira, tanto sobre a origem de recursos, quanto ao envio. Isso significa que, não importa o número de transações que sejam feitas, a ferramenta irá expor quantos intermediários foram necessários para entender o fim da cadeia transacional.
As operações são divididas entre exposições diretas e indiretas de uma carteira. A exposição direta apresenta um montante recebido ou enviado de uma parte a outra, sem qualquer intermediário, existindo um grande indício do agente detentor da carteira ter ciência da origem e do envio de recursos. Enquanto isso, na exposição indireta não existe a conexão direta entre a origem e destino dos recursos.
No mercado tradicional, os bancos comerciais somente possuem a informação de uma transação sobre sua origem e destino de recursos (exposição direta), não sendo possível averiguar de onde os fundos foram recebidos/enviados além de 1 “salto” (exposição indireta).
Sendo assim, mesmo sem a presença de regulamentação em algumas jurisdições, o mercado de criptoativos está comprometido com as melhores práticas de mercado e, mesmo sem um agente regulador, está instaurando diversas melhorias como forma de corroborar o compromisso contra a proliferação de crimes financeiros e crises reputacionais.