A prefeitura do Rio de Janeiro vai investir em criptoativos e criar uma moeda digital, a “CariocaCoin”. A iniciativa, no entanto, não vai parar por aí. O município já faz estudos para criar NFTs de patrimônios culturais e para colocar a cidade maravilhosa no metaverso, é o que afirmou o secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação do Rio de Janeiro, Chicão Bulhões.
“A gente se interessa não somente pelo criptoativo em si, mas por tudo que o mundo cripto traz. Estamos discutindo metaverso, blockchain, NFT, tokens”, disse Bulhões, em entrevista exclusiva ao Panorama Crypto. O secretário ainda falou sobre a importância do ecossistema de startups e empresas cariocas no mercado cripto, bem como sobre as iniciativas futuras da cidade em atender cidadãos no metaverso. Confira aqui:
PanoramaCrypto: A Prefeitura do Rio de Janeiro criou um grupo de estudo com o mercado de criptoativos para estudar as possibilidades de como usar o cripto para a cidade. Uma dessas discussões já acabou trazendo a análise de criar a moeda digital carioca, mas o que mais estão discutindo?
Chicão Bulhões: Nos interessamos não somente pelo cripto em si, ou por uma determinada moeda em si, mas em tudo aquilo que o mundo cripto traz. Ou seja, discussões sobre metaverso, discussões sobre blockchain, discussão sobre NFT, discussão sobre token. Todos esses novos instrumentos que já estão presentes no mundo digital e são usados no mercado a fora também são o futuro para a cidade.
Estamos estudando: investir parte do orçamento ou pagamento de impostos usando criptomoedas. Criar NFTs de cenários e de marcas culturais cariocas em parceria com artistas como forma de promover a cidade e gerar nova fonte de receita. A criação de um marketplace virtual para exposição e negociações de NFTs do Rio de Janeiro, a atração de marketplaces que já existem para cá. E desenvolver uma moeda social e digital, com base em blockchain. Blockchain para promover a iniciativas de finanças solidárias com governança transparente. Isso são só um dos temas alguns dos temas que a gente está discutindo no grupo de trabalho Rio Cripto.
PanoramaCrypto: O que é exatamente esse grupo de trabalho Rio Cripto e qual a importância das empresas cariocas para o fomento da inovação do município no segmento de criptoativos?
Chicão Bulhões: Descobrimos que o ecossistema de cripto Rio de Janeiro é muito vasto, com empresas como a Transfero e a Hashdex, são atores de grande magnitude no mercado. E foi, justamente por aí que começamos, identificamos as empresas para potencializar o ecossistema e trazer a tecnologia para mais próxima da realidade do Rio. Nesse sentido, fizemos o grupo de trabalho Rio Cripto.
A gente entende que, para potencializar o criptoativo e a tecnologia no entorno delas, precisamos cada vez mais fortalecer o ecossistema daqui. Para que as empresas e pessoas considerem o Rio de Janeiro na hora de investir.
PanoramaCrypto: Você comentou sobre NFT, sobre metaverso. Quais são as possibilidades que estão sendo desenhadas utilizando criptoativos?
Chicão Bulhões: Me interessa pessoalmente a questão dos criptoativos, ou de ter uma moeda local de ter uma moeda local baseada em tecnologia confiável para que a gente possa, por exemplo, ter uma facilidade maior para as populações que, hoje em dia, vivem em áreas de risco e ainda estão inseridas na economia informal. A moeda digital é um passo importante para que elas possam ter acesso a um sistema financeiro digital.
Outra discussão que é bastante importante é a questão da possibilidade dos NFTs, de explorar os ativos culturais do Rio de Janeiro, como forma de receita alternativa da cidade, com tudo que temos de interessante. Estamos estudando a possibilidade de levar o carnaval e outros eventos culturais para o NFT e para o mundo digital.
PanoramaCrypto: As ações estão em discussão agora no grupo Rio Cripto. Existe algum roadmap ou indicação de tempo de quando elas chegarão ao público?
Chicão Bulhões: A ideia é começar a realizar parte dessas ações ainda no final deste ano. Existem algumas discussões de NFT um pouco mais avançadas. Mas vejo o final do ano como um tempo melhor, que dá espaço para discutir com o mercado e com a sociedade.
O restante das ações vão demandar mudanças legislativas ou construções tecnológicas, ou de um desenho que geram impacto de política pública.
PanoramaCrypto: Sobre o NFT do Rio de Janeiro. Você está querendo dizer que, em algum momento, a gente poderá ver um NFT do Cristo Redentor?
Chicão Bulhões: Quase isso. A gente sabe que o Rio de Janeiro tem uma potencialidade cultural e histórica que poderia gerar muita atratividade para algumas NFTs que poderiam ser exclusivas para os usuários. E isso pode ajudar nas receitas da cidade do Rio de Janeiro, até porque, a gente entende que, uma vez negociado, o NFT segue se valorizando, gerando receita para o autor. Fica permanente, seria algo interessante. Explorar nossos principais ativos também como fonte de receita, aproveitando isso. Mas está em fase de estudo, porque ainda estamos analisando o que conseguimos fazer com segurança. Isso é muito novo para a gente, estamos aprendendo ainda. O Rio de Janeiro está na vanguarda, já entendemos que o mundo mudou e muito rápido. Queremos ser protagonistas globais, que é o que o Rio sempre foi.
PanoramaCrypto: Com relação ao metaverso, quais as possibilidades para a prefeitura do Rio de Janeiro e quais são os desafios?
Chicão Bulhões: Acredito que um desafio forte é o entendimento do público. Sempre tento explicar o metaverso como a internet 3D. É como você estar no site e ter um avatar seu ali. Inclusive, está na nossa agenda de muito futuro criar prestação de serviços a quem já está no site. Eventualmente, conseguir atender os cidadãos do Rio que já estejam no metaverso. Por que a pessoa não poderia ser atendida em 3D diretamente no nosso site? Acho possível. Mas é um plano muito para o futuro, primeiro precisamos tirar os processos da cidade do papel. Literalmente.
Quando fala tirar do papel, você também prevê usar o blockchain para poder diminuir as burocracias com relação à documentação que a prefeitura precisa lidar no dia a dia?
Chicão Bulhões: O blockchain poderia resolver algumas burocracias de forma muito mais rápida. É uma tecnologia fantástica, ele consegue eliminar grande parte da burocracia e com muita segurança. Acho que os governos ainda estão engatinhando nesse tema, e que precisamos acelerar um pouco o uso dessa tecnologia. Para isso, as pessoas precisam se acostumar com ela. Porque as pessoas estão muito apegadas ao papel e ao carimbo. É realmente uma discussão cultural.
Eu acho que a implementação do blockchain tem a capacidade de trazer um uso mais eficiente para o recurso público e acho que vai ser inevitável. A questão é mais quando [o blockchain será aplicado] do que se. Não podemos deixar de lado que estamos acelerando o processo e que existem dores de crescimento naturais dentro da administração pública.
PanoramaCrypto Como a criação e o uso do criptoativo do Rio de Janeiro pode diminuir as “dores do crescimento da administração” para o uso de blockchain ?
Chicão Bulhões: A CariocaCoin, que é o nome que estamos usando aqui, pode abrir espaço para que as pessoas entendam a tecnologia dentro da administração pública. Pode mostrar para as pessoas que existe segurança na tecnologia.
No momento que a cidade tem a sua própria moeda e coloca isso para que as pessoas possam utilizá-la, e se ela facilita a vida das pessoas, tendem a utilizar. Não podemos fazer algo que seja difícil, perda de tempo. As pessoas sempre tomam decisões com base na facilidade para vida delas. A gente está sempre pensando nos efeitos práticos da coisa. Não podemos ficar só na teoria porque a teoria é bonita, mas às vezes não funciona. A gente conversa com o mundo real.
PanoramaCrypto: Quais outras iniciativas a prefeitura está tomando para fortalecer o ecossistema de inovação e tecnologia no Rio de Janeiro?
Chicão Bulhões: O Rio de Janeiro tem um potencial imenso para ser um player global em inovação e tecnologia. Temos aqui todos os fatores: os grandes espaços de estudos em matemática aplicada, grandes universidades e empresas com inovação de ponta. E isso precisa ser melhor aproveitado pela cidade, dado que a gente tem uma fuga de talentos grande snesse setor. As pessoas formadas em lugares como o IMPA, a PUC, a UFF, a FGV, acabam indo para outros lugares para procurar oportunidades ou para empreender. Nossa missão é manter as pessoas aqui e potencializar a vocação do Rio de Janeiro para reverberar temas de inovação. Outra ação que fizemos é eliminar o alvará da prefeitura para atividades de baixo risco, que incluem diversas atividades de tecnologia, e fizemos o ISS-Tech, para área que vamos chamar de “Porto Maravalley”.